De: Lila Aviles. Com Naíma Sentíes, Montserrat Marañon, Marisol Gasé e Mateo Garcia. Drama, México / Dinamarca / França, 2023, 95 minutos.
Em uma pequena sequência do afetuoso e elegíaco Tótem (Tótem), a protagonista Sol (Naíma Sentíes), uma menininha de apenas sete anos, constroi uma daquelas casinhas tipicamente infantis com as almofadas do sofá da sala da casa de campo do seu avô Roberto (Alberto Amador). É um instante mínimo, mas que evidencia que a pequena talvez esteja buscando algum tipo de refúgio particular, em meio a um mundo exterior em turbulência. Sol é interrompida pela empregada da família, que pede para que ela saia dali - "você ainda vai se machucar", diz ela. Como se ela já não estivesse suficientemente machucada. Sol está na casa do avô para celebrar o aniversário de seu pai, Tona (Mateo Garcia) - uma festa está sendo preparada. Só que há uma nota triste nessa celebração: há a chance de que esta seja a última festa para Tona, que sofre de um câncer terminal. O que faz com que mal tenha motivação para se levantar da cama. Que dirá sair do quarto.
Só que a família está engajada nessa espécie de rito final para Tona. Pode ser que o homem estivesse contrariado em relação a tudo aquilo - está doente, cansado, talvez só quisesse poder ter um pouco de sossego nos seus últimos dias. Ainda assim não deixa de reconhecer o esforço comovente de suas duas irmãs - Nuria (Montserrat Marañon) e Alejandra (Marisol Gasé). A primeira se ocupa de tarefas domésticas e de elaborar um bolo para o irmão, tendo ainda de lidar com a pequena (e mimada) Ester (Saori Gurza), que se pendura nas pernas da mãe, resmunga, sobe na geladeira junto com seu gato (um comportamento adorável ao seu estilo, mas que exaspera Nuria). Já Alejandra tem como tarefa limpar a casa das supostas energias ruins, o que a faz contratar em cima da hora uma dessas terapeutas holísticas meio canastronas, que passam aquela vibe do charlatanismo. Por fim há Roberto, o patriarca, um terapeuta que atende pacientes em meio àquela ambiente confuso, cheio de gente, que beira o caos.
Dirigida por Lila Aviles - em seu segundo filme, depois do ótimo A Camareira (2019) - esta é uma experiência naturalista, amorosa, que apresenta o ser humano como um sujeito que centra sua identidade na coletividade, nas celebrações em grupo, nos cultos e cerimônias religiosas ou sociais. Nascemos para os rituais e com eles também nos vamos. Do começo ao fim, da vida à morte, da saúde à doença, estamos sempre congregados como forma de sacramentar amizades, famílias, coletividades. É daí que parece brotar o ideal alegórico do totem, que dá nome ao filme. Algo reforçado no encontro final, que certamente fica marcado como um dos momentos mais comoventes do cinema neste ano. A gente ri e chora, se emociona, se impacta. Em muitos casos conduzidos pelos olhares e silêncios de Sol, por sua insatisfação ou mesmo pela demonstração de amor entortada. Pela dança e pelas pinturas, pelas artes e pela cultura. É um filme diferente daquilo que estamos acostumados. Ainda que não seja assim tão complexo, tão fora da curva. Tá na Netflix e vale o play.
Nota: 8,5
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