terça-feira, 9 de abril de 2024

Novidades em Streaming - Descanse em Paz (Descansar en Paz)

De: Sebastián Borensztein. Com Joaquin Furríel, Griselda Siciliani, Gabriel Goity, Lali Gonzalez e Luciano Borges. Drama / Suspense, Argentina, 2023, 105 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO TEM SPOILERS]

Quem acompanha a carreira do diretor argentino Sebastián Borensztein sabe que a parte mais famosa de sua filmografia envolve produções de comédia, com aquele senso de humor meio nonsense em que a gente ri agora, pra chorar em seguida - como fica evidente nos ótimos Um Conto Chinês (2011) e, mais recentemente, em A Odisseia dos Tontos (2019). Com Descanse em Paz (Descansar en Paz), ele faz uma incursão por um cinema mais sério, enveredando pelo drama familiar com pitadas de thriller policial. E o resultado da obra, que está disponível na Netflix, é bastante satisfatório. Aqui, ao cabo, temos a experiência de entretenimento de fórmula, com boas reviravoltas e um senso de tensão permanente, que deixa a coisa toda meio imprevisível. É, em alguma medida, o filme bom de ver. Aquele que muitas vezes você precisa para relaxar, depois de um dia de trabalho.

Na trama, Sergio Dayan (o ótimo Joaquin Furríel) é um empresário que já foi bem sucedido, mas está afundado em dívidas - o que não o impede de manter certos luxos. No começo do filme o vemos investindo em presentes caros e numa festa voluptuosa de aniversário para a sua filha adolescente. Só que isso não pega nada bem não apenas para os empregados de sua pequena fábrica, que cobram os salários atrasados e ameaçam paralisar as atividades, mas também para os agiotas que andam rondando o bairro - um pessoal meio barra pesada, que tem na figura de Hugo Brenner (Gabriel Goity) o seu principal representante. Hugo lhe dá uma semana para quitar a dívida, sob pena de ele sofrer severas consequências - o que o faz temer pela vida da família, especialmente da esposa Estela (Griselda Siciliani) e dos filhos. Pra ganhar tempo, o protagonista consegue vender uma casa de campo, o que lhe permitirá saldar parte do que deve.

 


Só que, por uma daquelas coincidências do destino, Sergio acaba sendo uma das vítimas de uma explosão, que ocorre próximo ao local em que ele pretendia entregar o dinheiro. Dado como morto pelas autoridades policiais locais, o homem vê aí a oportunidade perfeita para simplesmente desaparecer do mapa - desviando sua rota para o Paraguai onde, com nova identidade e um passado que ninguém conhece, reiniciará sua vida. O abandono à família se dá em partes: como um cadáver nunca encontrado, ele possibilitará à Estela acessar um volumoso seguro de vida, que permitirá à ela e aos filhos recomeçar a vida. Pagar as pendências. E também se ver livre dos perigos da agiotagem. Tudo parece mais ou menos bem até que, bom, a vida dará as suas voltas e as pendências do passado poderão ressurgir quando Sergio menos esperar. E mais: como um sujeito sozinho no Paraguai, por quanto tempo ele aguentará? Qual o preço desse isolamento forçado?

Ao cabo esse não é um filme que busca muitas respostas, nem se pretende ser excessivamente filosófico na análise das relações familiares - por mais que as falhas do capitalismo inevitavelmente apareçam no centro da narrativa (as crises argentinas que vêm e vão costumam ser matéria-prima das produções de Borensztein, como é o caso do já citado A Odisseia dos Tontos). Aqui a gente se apega muito mais a tensão da coisa toda, que é reforçada pelos closes no rosto do protagonista, que parece envelhecer uns trinta anos quando ocorre um salto temporal (méritos para a maquiagem e para a interpretação cheia de sutilezas e de silêncios de Furríel). Em alguns fóruns muitas pessoas se queixaram do final excessivamente dramático e violento. Mas não deixa de ser o desfecho perfeito para uma história de amor acima de tudo - e a sequência que envolve um singelo colar no pescoço de uma das personagens, é daqueles que nos comove sem precisar muito.

Nota: 7,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário