quarta-feira, 20 de março de 2024

Pitaquinho Musical - Real Estate (Daniel)

Vamos combinar que o Real Estate é a prova viva de que a música pode ser fácil, descomplicada, sonhadora, doce. Sim, a gente já ouviu esse estilo de jangle pop antes - seja em bandas como o Teenage Fanclub ou, mais antigamente, com o The Byrds. Já se vão quinze anos de carreira e, no sexto disco, Daniel, a coisa não mudou muito. Há um apelo nostálgico permanente na guitarrinha primaveril, que combina perfeitamente com os versos flutuantes de Martin Courtney. São canções que aconchegam e que acolhem o ouvinte, mesmo quando eventualmente soam mais complexas do que parecem. É o caso, por exemplo, do single Water Underground, que mergulha nas profundezas da mente, ao usar a imagem da água como uma metáfora para o inconsciente, para a parte mais misteriosa do cérebro. "Você apenas está vivendo sua vida cotidiana e encontra algum tipo de inspiração", divagou Courtney.


 

O expediente se repete em outros momentos simples e belos. Say No More se inspira no clássico Harvest Moon, de Neil Young, em um tipo de canção grudenta, que poderia muito bem estar no álbum Days (2011) sem que houvesse nenhum estranhamento. A estrutura de verso, ponte e refrão é replicada de forma persistente, o que pode soar um pouco cansativo para quem aguarda um pouco mais de elaboração. Mas não dá pra negar que, atualmente, o grupo já possui uma personalidade própria, que permite fácil identificação. "O sol se pôs / Nós permitimos / Nunca estive tão contente", verte em torrente o refrão de Airdrop, antes de um sintetizador inesperado explodir. Em Market Street a estrutura se repete, bem como os temas (As coisas não parecem certas / Banhadas pela luz do sol). Pode parecer apenas banal, talvez cotidiano demais. Mas encontrar magnitude no ordinário também tem seu charme. E ao optar por essa jornada do comum, o Real Estate converte seus temas - e suas angústias suburbanas - em maiores do que parecem.

Nota: 8,5


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