Quem acompanha o trabalho de Adrianne Lenker, seja à frente do Big Thief ou em carreira solo, sabe que suas obras não são daquelas que nos apaixonam de primeira - e não é diferente com o recém lançado Bright Future. Sim, porque a despeito da simplicidade evocativa do violão e da voz enfumaçada, pincelada aqui e ali por um violino ou um efeito eletrônico econômico, o que temos são registros que requerem uma atenção maior do ouvinte. Nem sempre há refrãos fáceis ou as curvas óbvias previstas no pop plastificado da atualidade. Ou no folk encomendado. O caminho, ao cabo, pode ser imprevisível mas sofisticado, instável mas arguto. Basta olhar para os versos, que até divagam sobre cotidiano bucólico e a complexidade das relações humanas, mas sempre com uma dose de boa poesia - algo que fica claro, por exemplo, no single Sadness As a Gift (Estive procurando seus olhos / E tudo que vejo é o céu azul). Ou mesmo em Evol, que explora o conceito de palíndromos.
Em linhas gerais tudo é muito íntimo e cheio de vulnerabilidade. É como se Lenker simplesmente pegasse seu violão, entrasse em um quartinho fechado de uma casa isolada no meio do mato, rodeada por montanhas e riachos, e dedilhasse qualquer coisa tão sofrida quanto aleatória. Ainda assim é interessante notar como há certo encantamento nesse caráter meio banal da coisa toda - como se houvesse um brilho meio mágico, quase onírico, a cada nota vocal mais alta ou a cada melodia entortada, que se equilibra em perfeita harmonia com o silêncio das brechas. Libélulas, varandas perfumadas, nuvens que passam, framboesas silvestres e macieiras, passeios com o cachorro, lareiras acesas, ventos que arrepiam - há uma felicidade boba no agora, que faz o contraponto a um futuro que, sabemos, não será tão brilhante assim. Só que enquanto o trágico não ocorre podemos dar play para dançar timidamente ao som de Free Treasure, Vampire Empire e Ruined. Certamente valerá a pena.
Nota: 8,5
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