quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Novidades em Streaming - A Vida Extraordinária de Louis Wain (The Electrical Life of Louis Wain)

De: Will Sharpe. Com Benedict Cumberbatch, Claire Foy, Toby Jones e Olivia Colman. Drama, Reino Unido, 2021, 111 minutos.

"O artista Louis Wain tornou seu o gato. Ele inventou um estilo de gatos. Uma sociedade de gatos. Todo um mundo de gatos. Gatos que não se parecem e vivem como os gatos de Louis Wain têm vergonha de si mesmos. Mas não é isso que importa. O que importa é que Louis Wain dedicou sua vida a tornar todas as nossas vidas mais felizes. Ao fazer isso, ele sem dúvida elevou o gato na sociedade, mudando nosso mundo para melhor". Dita pelo escritor britânico de ficção científica H.G. Wells, pode-se dizer que a frase acima resume, ao menos em partes, aquilo que acompanhamos no "elétrico" A Vida Extraordinária de Louis Wain (The Electrical Life of Louis Wain), uma das novidades da semana no Now. Vivido pelo onipresente Benedict Cumberbatch, Wain foi um espírito inquieto - um representante típico da Inglaterra Vitoriana - daqueles que tinha a mente sempre em ebulição e controlava parte do caos interior sempre se movendo. De forma frenética, intensa.

Nesse sentido talvez não seja por acaso que a eletricidade do título original volta e meia reapareça na narrativa, como uma espécie de força mais metafórica do que efetivamente concreta que sirva para nos impulsionar. Que nos tira do passado para nos arremessar para o futuro em uma espécie de processo irreversível. Em meio a tantas atividades praticadas por Wain - ele foi um fracassado professor de artes, um boxeador ocasional, um músico frustrado, um aspirante a inventor que buscava patentear qualquer coisa - foi a pintura que lhe possibilitou esse tipo de elevação. A ilustração. Especialmente as de gatos. Calendários, álbuns, cartões postais, charges de jornais... no final do século 19, os gatos distorcidos do artista plástico, eventualmente fragmentados ou até psicodélicos estavam em toda a parte. E quanto mais progredia a sua esquizofrenia e o seu apelo a eletricidade - esse negócio tão extraordinário, incompreensível à mente humana, essa força misteriosa e elementar que guarda os segredos mais profundos da vida -, mais fantasiosos, surrealistas e psicóticos se tornavam os seus gatos.


Conduzido com elegância e urgência por Will Sharpe, o filme avança a partir de dificuldades da vida de Louis que, após a morte do pai precisou cuidar das cinco irmãs e de sua mãe. Mal visto pela sociedade da época, o casamento com a governanta da família Emily Richardson (Claire Foy) foi o ponto de partida para a verdadeira obsessão por gatos - Wain costumava retratar o felino Peter, especialmente após a precoce morte de Emily, vitimada por um câncer de mama. Essas notas tristes que pontuaram a vida do artista são retratadas por Sharpe como uma verdadeira montanha-russa que conduz o protagonista à fama repentina mas também a completa incapacidade de gerir seus próprios negócios. Wain chegou a integrar entidades como a Sociedade de Proteção aos Gatos - uma novidade lá pelo ano de 1890. Mas nunca soube ganhar dinheiro, nem comercializando seu material e muito menos preservando a propriedade intelectual de suas imagens. Logo os gatos de Wain estavam por toda a parte. E ele seguia com poucos recursos - condição que pioraria com os primeiros sinais de sua doença mental.

De certa forma essa é uma obra que, por mais que aposte no tom eventualmente melancólico, não deixa de reconhecer a beleza do legado de Wain. A produção é caprichada, com seu desenho de produção competente e com sua fotografia que parece emular a paleta de cores de quadros - isso sem falar na trilha sonora envolvente. Narrado por Olivia Colman, o filme ainda presta tributo à poesia que existe por trás da busca da beleza do mundo - aquilo que muitas vezes os nossos olhos parecem fazer força pra enxergar e que muitas vezes está na nossa frente (e, nesse sentido é impossível não se emocionar com o instante em que Emily lembra Louis de que o olhar é a chave para que capturemos à beleza). "E você pode funcionar como um prisma, que espalha as cores ao redor". É tudo muito honesto, com um roteiro bem costurado e um empenho geral para que o resultado seja satisfatório. Talvez não fosse a necessidade de uma campanha tão ampla e estaria entre os cotados para o Oscar. Ainda assim, mesmo sem indicações, vale conferir.

Nota: 8,0

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