De: Wes Anderson. Com Jason Schwartzman, Bill Murray, Olivia Williams e Luke Wilson. Comédia, EUA, 1998, 93 minutos.
Quem acompanha a carreira do diretor Wes Anderson sabe que a trilha sonora, em seus filmes, tem grande importância. E talvez seja TAMBÉM por causa de suas escolhas musicais que a gente tenha aprendido a amar tanto os esquisitões, nerds e desajustados que sempre povoaram as suas histórias. Três É Demais (Rushmore), por exemplo, poderia ser apenas mais um filme de formação boboca, com um adolescente que não vê a hora de efetivamente "crescer", chegar a vida adulta. Mas uma coisa é o espírito juvenil carregado pela força de alguma composição descartável e urgente. A outra são as sequências que dão uma carregada nas tintas da profundidade, algo ampliado pelo nosso tamborilar de dedos ao som de Oh Yoko! de John Lennon, The Wind de Cat Stevens ou ainda A Quick One, While He's Away do The Who. A impressão, com tanta música bacana, é que o fiapo de história que estamos acompanhando se torna maior. Mais relevante. Ainda que inadiavelmente divertido.
Nesse sentido, acho que escolher trilha sonora é algum tipo de mérito que pode ser definidor até mesmo para o futuro de um cineasta. Será que Wes Anderson se sentiria, por exemplo, tão à vontade para escalar o Seu Jorge para recriar canções de David Bowie no absurdamente delicioso A Vida Marinha de Steve Zissou (2004) se não tivesse acertado em cheio da na seleção musical de Três É Demais? A segurança para isso certamente partiu de suas escolhas nessas obras já do final dos anos 90, quando tinha pouco mais do que 25 anos. Período em que seus filmes ainda não tinham o colorido tão ostensivo quase saído de experiências oníricas, abstratas e abundantemente vivas e a excentricidade de seus personagens ainda estava em fase "experimental". Hoje, Anderson é uma verdadeira marca e filmes como A Crônica Francesa (The French Dispatch), que estreia por aqui no dia 15 de outubro, são aguardadíssimos pelos fãs. Por nós, inclusive!
Já em Três É Demais, acompanhamos a rotina do esquisito Max Fischer (Jason Schwartzman), um jovem de quinze anos que possui uma bolsa de estudos no prestigioso colégio Rushmore e que só não é expulso do local porque participa de um sem fim de atividades extracurriculares - que envolvem grupo de prática de esgrima até envolvimento com a associação de apicultores. O caso é que, a despeito da criatividade para se meter em tudo quanto é coisa as suas notas são muito baixas. E a situação piora quando ele se apaixona pela professora Rosemary Cross (Olivia Williams), quase vinte anos mais velha do que ele. Tentando impressioná-la de todas as formas, Max se aproximará ainda do magnata Herman Blume (Bill Murray, quem mais seria?), um homem de meia idade que sofre de depressão e que também tem dificuldade de se "conectar" com outras pessoas. Nesse contexto, Rosemary obviamente considerará Max muito novo para ela. E terá um caso com Blume, o que iniciará uma disputa divertidíssima entre os dois "rivais".
No fim das contas a película é o mais improvável romance de formação que se tem conhecimento e a capacidade de Max em transformar o entorno para tentar chamar a atenção de sua amada renderá alguns dos melhores momentos da obra - como na parte em que ele moverá mundos e fundos para construir uma espécie de aquário junto a um campo de baseball. Incapaz de converter a paixão em algo para além do platônico, o protagonista se desgastará com todos a seu redor - de Blume ao seu melhor amigo, o pequeno Dirk (Mason Gamble). Povoando as sequências com uma série de piadas sobre amadurecimento e sobre a dificuldade de se encaixar em um mundo cheio de padrões, Anderson constrói uma saborosa comédia, que tem uma leveza palpável, que contrasta com o peso das canções escolhidas para a já citada trilha sonora. Não por acaso, será praticamente impossível não abrir um largo sorriso quando Ooh La La dos Faces surgir, já nos créditos finais, com as coisas meio que se "encaixando", de forma quase inesperada. Sensacional é pouco!
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