segunda-feira, 27 de julho de 2020

Novidades no Now/VOD - High Life (High Life)

De: Claire Denis. Com Robert Pattinson, Juliete Binoche, Andre 3000, Ewan Mitchell e Mia Goth. Ficção científica, Alemanha / EUA / França / Polônia / Reino Unido, 2018, 113 minutos.

Quem gosta de ficção científica existencialista, daquelas que dificilmente tem algum resposta pronta mas que evoca no espectador uma série de sensações diversas, pode embarcar na "viagem" de High Life (High Life) sem medo de se arrepender. A obra da veterana diretora Claire Denis (de Minha Terra, África) é dessas: flui de forma vagarosa, utiliza a parte técnica em favor da narrativa e se ocupa muito mais em analisar o componente (e o comportamento) humano do que em realizar algum tipo de tratado científico. A obra já inicia, diga-se, belíssima: um lindo ecossistema - vivo, florido -, é mostrado em uma sequência de imagens granuladas, cheias de cores, de uma natureza exuberante, massiva. Na próxima tomada um astronauta trabalha na parte externa de uma nave espacial, ouvindo um choro de bebê que vem de dentro da instalação. Natureza, vida, máquinas, futuro e passado. Verde e cinza. Não temos nem cinco minutos de película e já sabemos que esta será uma obra de contrastes, de ambiguidades e, claro, de incertezas.

Voltando um pouco no tempo compreenderemos por que aquele homem - seu nome é Monte (Robert Pattinson) -, está ali, sozinho, com um bebê, vagando pelo espaço em uma nave em formato de contêiner (algo bastante sugestivo, diga-se): ele integra um grupo de criminosos que aceitou, como forma de reduzir (ou expiar) suas penas, participar de uma missão espacial em busca de recursos naturais. Próxima de um buraco negro, distante milhares de quilômetros de anos-luz, a nave deverá tentar se "acoplar" ao sistema para que, em rotação, possa gerar essa energia alternativa. Mas não precisamos aqui esperar grandes explicações científicas ou mesmo imagens de cientistas da Nasa, na Terra, monitorando a expedição: fora de nossa galáxia, a tripulação estará incomunicável. Há apenas uma sequência em que um especialista explica, brevemente, o absurdo de mandar seres humanos - mesmo criminosos com pena de prisão perpétua -, basicamente, para a morte, sob a desculpa de desenvolvimento da ciência.


Essa discussão por si só já justificaria a existência desse filme: o que vemos em tela é ético? Muitas pessoas afirmam que bandidos, ladrões, assassinos e estupradores deveriam trabalhar para o Estado (e para a população), como forma de "pagar as suas dívidas". Transformá-los em astronautas em missões praticamente suicidas deveria ser moralmente aceito? A Monte se somarão quase uma dezena de outros tripulantes, entre eles a misteriosa Dr. Dibs (Juliette Binoche), que parece ter cometido um grave crime envolvendo seus filhos e maridos. Na nave, trabalha no sentido de "gerar vida", fazendo coleta de esperma dos homens e realizando implantes nas mulheres (a viagem é longa, afinal). Não bastasse esse contraste que cruza vida e morte, assuntos como religião, família, filhos e sexualidade surgirão aqui e ali em sequências mais sucintas - e até etéreas, como a que envolve a relação de Monte e o bebê -, com outras mais "visuais", caso da sequência bastante sensual em que a Dr. Dibs entra em uma espécie de "câmara sexual" existente na nave.

Sobre isso, o filme não economiza nas rimas visuais, já que os fluídos humanos (e da própria natureza) surgem como aspecto evocativo do esforço para a geração da vida, do prazer ou da mera continuidade. Ainda assim é claro que, num ambiente de confinamento, com os sujeitos vivendo um isolamento forçado, serão inevitáveis os conflitos, o que dará algum movimento para a narrativa, que trafegará no limite entre o exótico, o lascivo e até o onírico. Há beleza, mas há dor, assim como haverá vida, mas também morte. O ser humano avança - sua tecnologia, seu conhecimento -, para se enfiar em contêineres pequenos. Para brigar pelos parcos recursos. Para renegar o direito à vida àquelas pessoas que convivem a margem, que são párias para a sociedade. Qual o caminho? Onde iremos parar querendo tanto, desejando tanto, nunca estando satisfeitos? Não poderíamos talvez olhar um pouco mais para o simples, para aquilo que poderia efetivamente ter valor? Não há respostas prontas. Mas só o ato de refletir sobre tudo isso, já faz a experiência proposta por High Life valer a pena.

Nota: 8,0

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