Já aconteceu muitas vezes na maior festa do cinema: o melhor filme entre os indicados não foi, necessariamente, o aclamado. Por quaisquer que sejam os motivos - e a gente sabe que premiações como o Oscar se valem de muito lobby e campanhas envolvendo um grande volume de recursos (que surgem no formato de mimos ou de jantares luxuosos) -, em muitos casos ficou para a posteridade reconhecer a relevância de determinada obra (como no caso do nosso primeiro colocado). Fora os casos em que o melhor filme do ano sequer foi indicado para a premiação! Bom, aqui a gente relembra, em uma pequena lista, os sete maiores absurdos do Oscar na categoria Melhor Filme.
7) Crash - No Limite x O Segredo de Brokeback Mountain (2006): eu vou contar um segredo a vocês: quando o drama sobre racismo de Paul Haggis foi anunciado como o Melhor Filme da edição daquele ano eu SALTEI DO SOFÁ! De alegria! Por que foi algo totalmente inesperado e eu tava torcendo muito pelo filme. Mas eu tenho consciência de que a crítica torceu o nariz, por O Segredo de Brokeback Mountain ter sido ignorado. Passados dez anos e, com algum distanciamento histórico, reconheço a pungência da abordagem de Lee em seu filme - especialmente em uma época em que o conservadorismo da Academia estava cada vez mais sendo questionado. Mas foi divertido, não vou negar.
6) Rebecca - A Mulher Inesquecível x Vinhas da Ira (1941): pra mim, nesse caso, o problema não foi nem a vitória do ótimo Rebecca, mas sim o filme do Alfred Hitchcock que escolheram para aclamar como Melhor Filme. Sim, o cara que fez Psicose, Janela Indiscreta e Um Corpo Que Cai (que, pasmem, não foram sequer lembrados pela Academia), recebeu a estatueta por uma obra que, nem mesmo para os fãs, está entre as preferidas. Qual o critério? E, outra: por mais que o Mestre do Suspense seja talvez o meu diretor preferido de todos os tempos, nada batia Vinhas da Ira naquele ano. Aliás, talvez até o agridoce Núpcias de Escândalo fosse uma escolha mais acertada. E se estou errado você que me digam!
5) Kramer vs. Kramer x Apocalypse Now (1980): lembro de ter assistido o drama doméstico do diretor Robert Benton na adolescência e, talvez para não cometer nenhuma injustiça, talvez aqui fosse o caso de uma revisão. Mas, ainda assim, eu DUVIDO, que ele seja mais relevante, impactante e imponente do que retrato nu e cru da guerra, orquestrado por Francis Ford Coppola. Tão cheia de problemas quanto de boas interpretações, excelentes diálogos e momentos icônicos, além da parte técnica impecável, o filme é profundo, alucinante, sombrio. Só faltou a Academia - que preferiu Meryl Streep e Dustin Hoffmann discutindo guarda de filho em tribunal - perceber.
4) Rocky - Um Lutador x Taxi Driver (1977): sim, eu sei que o filme estrelado por Stallone tem seus predicados e era um genuíno representante da América republicana, que vinha na esteira da campanha dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford (sempre lembrando a fama conservadora da Academia). Mas aí a ignorar os méritos da obra de Martin Scorsese? Bom, a trajetória do diretor foi mais ou menos como a do Hitchcock, mas ao contrário: esnobado pelos seus melhores filmes - ocorreu o mesmo na edição de 1981 quando o dramalhão Gente Como a Gente, de Robert Redford, bateu Touro Indomável -, acabou ganhando a estatueta por uma obra "menor", no caso, Os Infiltrados, na cerimônia de 2007. Aliás, um Oscar justo, é preciso que se diga.
3) Shakespeare Apaixonado x O Resgate do Soldado Ryan (1999): a edição do Oscar de 1999 é DISPARADA uma das mais destrambelhadas da história do cinema. Aliás, daria para fazer um especial nesse formato, só com os absurdos daquele ano - que vão de Roberto Benigni ganhando o Oscar de Melhor Ator no ano em que Edward Norton assombrou o mundo com sua caracterização de um nazista em A Outra História Americana e A Vida É Bela superando Central do Brasil na categoria Filme em Língua Estrangeira. Mas Shakespeare Apaixonado superando O Resgate do Soldado Ryan é algo que, definitivamente, não dá pra aturar. Pelo amor de Spielberg!
2) Sinfonia em Paris x Uma Rua Chamada Pecado (1952): o negócio é sério. Seríssimo, eu diria! No ano em que Marlon Brando e Vivien Leigh assombraram o MUNDO encarnando Stanley Kowalski e Blanche Dubois em uma adaptação enervante da obra de Tenessee Williams, a Academia optou por dar a sua estatueta máxima para o musical Sinfonia de Paris, de Vincente Minelli. Eu só posso acreditar que os votantes faltaram à sessão de Uma Rua Chamada Pecado. Aliás, quer ter uma dimensão do ABSURDO na hora da consideração por musicais? Lançado no ano seguinte, Cantando na Chuva - talvez o melhor filme do estilo na história - sequer figurou entre os nominados daquele ano.
1) Como Era Verde Meu Vale x Cidadão Kane (1942): com todo respeito ao melodrama de John Ford - que tem todos os méritos do mundo no debate da decadência da sociedade capitalista -, mas se comparado ao inovador filme de Orson Welles, ele fica parecendo mais uma novelinha água com açúcar. Maior caso de "Oscar para o filme errado" na história, a justiça só começou a ser feita anos mais tarde, quando Cidadão Kane passou a figurar nas primeiras posições em diversas listas de melhores - caso das do American Film Institute (AFI), tendo a sua narrativa envolvente, recheada de complexas trucagens técnicas nunca antes vistas, finalmente reconhecidas.
E antes de finalizar, fica a menção honrosa para a edição de 2011, que deu a O Discurso do Rei a estatueta que deveria ser de Cisne Negro (ou até de A Origem). E, pra vocês? Quais os absurdos? As injustiças? Esquecemos de algo? Deixem seus comentários!
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