quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Novidades em DVD/Now - Ford vs Ferrari (Ford vs Ferrari)

De: James Mangold. Com Matt Damon, Christian Bale, John Bernthal e Josh Lucas. Drama / Biografia, EUA, 2019, 153 minutos.

No começo dos anos 60, a empresa Ford se via numa espécie de encruzilhada: com a venda de seus "comportados" automóveis em baixa, precisava de alguma ideia inovadora que pudesse representar um upgrade que evitasse a falência que parecia se aproximar. Algo que desse visibilidade, que atraísse o público e que oxigenasse efetivamente a fabricante do Mustang e do Fiesta. Foi nessa época que um de seus executivos teve a ideia de levar a Ford para o universo do automobilismo, das corridas - que, na época, eram dominadas por uma certa Ferrari, que vinha de uma imponente sequência de vitórias em provas tradicionais do período, como as famosas 24 Horas de Le Mans. Tentar bater a escuderia capitaneada por Enzo Ferrari se tornou uma verdadeira obsessão para a segunda geração da família Ford. E é justamente essa a história, com todas as suas licenças poéticas, que é contada no ótimo Ford vs Ferrari (Ford vs Ferrari), mais recente película do diretor James Mangold (Johnny & June e Os Indomáveis).

Indicada ao Oscar na categoria máxima - acho que foi uma certa surpresa até pra equipe do filme -, a obra é uma mistura de história de superação com drama familiar, daquelas que costuma cair facilmente no gosto do espectador. Christian Bale é o mecânico metido a piloto Ken Miles, um sujeito meio esquentadinho que não hesitará em usar de certa violência (como na cena em que ele arremessa uma chave de boca na direção de outra personagem), para tentar provar seu ponto de vista. Já Matt Damon é o promissor piloto Carrol Shelby, que vê a sua carreira interrompida precocemente por conta de problemas cardíacos. Bom, serão essas duas figuras distintas que serão recrutadas por um grupo de gestores da Ford - entre eles o irritante playboyzinho Leo Beebe (Josh Lucas) -, para tentar dar essa repaginada na cara meio quadrada da Ford. Bom, não é preciso ser muuuito ligado para saber que serão justamente as diferenças de personalidade entre todos, somada as dificuldades gerais do projeto, que farão com que tenhamos, de fato, um filme. E um bom filme, diga-se.


Pra começo de conversa a história é toda muito bem costurada - e não é por acaso que o filme venceu a categoria Montagem no Oscar (em trabalho dos montadores Andrew Buckland e Michael McCusker). Tanto que mesmo que tenha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo - a aposentadoria de Shelby e o investimento em outra fonte de renda, s problemas financeiros e familiares de Miles, o dilema dos empresários da Ford e até a empáfia dos executivos da Ferrari -, tudo vai se intercalando de forma organizada, até chegarmos no estágio em que todos trabalharão juntos, no simples intuito de tornar a Ford uma vencedora de Le Mans. O que envolverá, claro, o descrédito de Miles pelo seu temperamento, uma série de disputas internas, alguma lamentação e muitas cenas legais de corrida, com direito a suor, lágrimas, sangue, carros desgastados, pistas perigosas e tudo o mais. É a obra completa - e fãs de filmes de "corrida" ficarão genuinamente extasiados. E mesmo este jornalista que vos tecla, que não gosta desse esporte, se viu envolvido!

Com ótimas interpretações - Christian Bale dispensa comentários, Matt Damon está ok e Jon Bernthal (o Shane de Walking Dead) finalmente não faz o "porra louca" -, a obra talvez só erre um pouquinho no tom ao vilanizar demais a Ferrari (seus executivos e pilotos sempre surgem em tela com cara de poucos amigos, nada amistosos, com aquele sangue nozóio meio exagerado). Mas ainda será uma obra que diverte, nos deixa apreensivos e ainda reserva uma pequena surpresinha para o final, que quebra um pouco a expectativa por trás do supostamente desejado "final feliz" para tornar tudo ainda maior. Sim, a gente sabe que a indicação ao Oscar foi um prêmio de consolação - houve ainda o prêmio para a Edição de Som -, mas James Mangold sabe conduzir bem uma história e o faz de forma correta, livre de amarras, trazendo personagens carismáticos, complexos e que nos faz gostar deles não por sua ética simplesmente inabalável, mas por eles serem apenas... humanos (que erram, acertam e tentam de novo). E se eu pudesse mudar só uma coisinha eu tiraria aquela ceninha mequetrefe da "briga" entre os protagonistas. É completamente deslocada e tenta fazer humor onde não parece existir graça. Mas é um deslize que, de forma alguma compromete!

Nota: 8,0

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