segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Pérolas da Netflix - Dumplin' (Dumplin')

De: Anne Fletcher. Com Danielle Macdonald, Jennifer Aniston, Odeya Rush e Harold Perrineau. Comédia dramática, EUA, 2019, 110 minutos.

É simplesmente impossível não se emocionar com Dumplin' (Dumplin') - aquele filmezinho água com açúcar, com uma cara de Sessão da Tarde, mas que é inteligente em sua abordagem de temas como quebra de padrões de beleza e autoaceitação. A trama, na real, não chega a ter tanta novidade: a jovem Willowdean Dickson (Danielle MacDonald) cresceu em um ambiente que "respirava" os concursos de beleza, já que a sua mãe Rosie (Jennifer Aniston) foi eleita miss mais de 10 vezes em uma pequena cidade do Texas. Acima do peso, mas a princípio "desencanada" em relação ao próprio corpo, a protagonista, que passa os seus dias ao som das músicas da cantora Dolly Parton, não dá a mínima para esse tipo de competição até o dia em que encontra, em uma caixa com antigos objetos de uma querida e falecida tia - que também era gorda -, um papel com uma inscrição para um concurso, que nunca se concretizou.

É a deixa para que Will tente honrar o legado da tia, o que ela fará se inscrevendo para o concurso - o que desesperará Rosie, que é uma das organizadoras o evento. Will não quer vencer o concurso de beleza, claro - ela se inscreve como forma de "protesto", para tentar confrontar aquele tipo de padrão de beleza estabelecido pela sociedade (que são as mulheres magras, pra começar). Ao lado de Millie (Maddie Baillio), outra jovem obesa que sonha de verdade em ser coroada rainha, da provocadora Hannah (Bex Taylor-Klaus) e da melhor amiga Ellen (Odeya Rush), elas organizarão o plano para tentar sabotar o concurso, ou ao menos tentar chamar a atenção para o anacronismo desse tipo de evento que, inacreditavelmente, perdura até os dias de hoje. Bom, é claro que a tarefa não será fácil e elas ficarão a ponto de desistir durante as prévias e suas exigências - como é o caso das danças coreografadas.



A reviravolta acontece quando elas vão parar em uma espécie de casa noturna cheia de drags (!) que lhes "adotarão". Como legítimas outsiders, se qualificarão nos bastidores, em segredo, levando sua arte aos palcos da final, surpreendendo os demais e levando a antiga mensagem de que, sim, beleza não é tudo nessa vida. E que podemos ter outras qualidades e virtudes que também são valiosas. Sim, no meio da história a gente até mais ou menos já imagina o que vai acontecer. Mas tudo é descortinado de forma tão graciosa que a gente está o tempo todo rindo, chorando e torcendo por TODOS, já que o elenco é um dos mais carismáticos dos últimos anos. Jennifer é a mãe vilã mas sem ser megera. Já Will compreende as exigências dos concursos e assim passa a entender melhor também a sua mãe. E todos se aceitam nesse microcosmo fictício em que não há tanto ódio, preconceito e intolerância.

A propósito, um dos acertos da produção é o de não investir no velho clichê de transformar as demais competidoras do concurso, ou ao menos aquela que é a bonitinha favorita, em uma garota escrota. O mesmo vale para o par romântico de Will que se torna, no fim das contas, apenas uma subtrama secundária, sendo muito mais relevante a mensagem que a película quer passar. Em um ano em que tivemos a primeira candidata trans da história a se credenciar para o Miss Universo - no caso a espanhola Angela Ponce - e assistimos vitoriosas cada vez menos estereotipadas, representando os mais variados povos, um filme que, com leveza, chama a atenção para o tema, é um verdadeiro achado. Em certa altura, Will e sua amiga Ellen recordam que, para ter um corpo ideal para um biquíni basta um corpo e um biquíni. Parece tão óbvio, mas diante da onda política conservadora e machista que vivemos, nunca é demais lembrar isso.

Um comentário:

  1. Oii! Vc consegue me dizer qual o nome da musica (instrumental) que toca na primeira dança do concurso quando todas as concorrentes entram vestidas iguais?

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