No começo dos anos 80 a chegada à maturidade dos baby boomers, aliada a eleição do republicano Ronald Reagan e ao clima de otimismo diplomático que culminou com o fim da Guerra Fria, fez com que os americanos passassem a, nas artes, voltar o seu olhar mais para si, para o seu íntimo. Não foi por acaso que, no cinema, os dramas familiares com pessoas buscando superar traumas do passado com a intenção de seguir em frente, funcionaram como a metáfora perfeita para a exorcização de alguns demônios, que se encontravam nas vísceras daqueles que viviam o sonho americano. Nesse sentido, não foi por acaso o sucesso de filmes, como Quando os Jovens se Tornam Adultos (1982), de Barry Levinson, Laços de Ternura (1983), de James L. Brooks e também do clássico vencedor do Oscar Gente Como a Gente (Ordinary People). No fim das contas eram obras sobre americanos, para americanos.
Primeiro filme de Robert Redford como diretor - ele também viria a ser agraciado com a estatueta dourada na categoria de Direção - Gente Como a Gente já inicia mostrando uma enseada em que as águas se movimentam de forma plácida, enquanto árvores multicoloridas e outros cenários idílicos sugerem a calmaria - sensação ampliada pela interpretação em estilo coral da música Canon In D Major, do compositor Pachelbel. Mas, por baixo dessa tranquilidade, há dolorosas feridas que não se apagarão tão simplesmente. Um sonho agitado faz o jovem Conrad (Timothy Hutton) acordar, mas não da realidade: o rapaz está em tratamento psiquiátrico após tentar o suicídio, já que ele se considera o principal culpado pela morte do irmão mais velho - um menino aparentemente querido por todos -, em um acidente de barco.
Não bastasse a dor (e o fardo) que Conrad carrega por não ter conseguido salvar o irmão - as imagens em flashback surgem volta e meia para esclarecer o ocorrido - ele ainda tem de lidar com uma mãe emocionalmente distante e amargurada, que está preocupada apenas em manter as aparências (Mary Tyler Moore) e com um pai que se esforça para tentar entender o filho, mas que tem dificuldade em se aproximar deste (papel de Donald Sutherland). Assim, com uma família tão distante, o jovem encontra refúgio nas aulas de natação e nas sessões com o pragmático doutor Tyrone (Judd Hirsch), que visam a estimular o jovem, que vive um estado quase catatônico, a catalisar as emoções tão reprimidas. Não é um processo fácil de superação e, inevitavelmente, haverá muita dor pelo caminho - ainda que a existência de figuras como a jovem carismática Jeanine (Elizbeth McGovern), possam representar algum tipo de respiro.
Gente Como a Gente é, no final das contas, o drama familiar típico. Cheio de grandes interpretações - Hutton, de apenas 19 anos, é até hoje o ator mais jovem da história a ganhar um Oscar de atuação (na categoria Coadjuvante) e Mary Tyler Moore transforma Beth na mais abominável das criaturas - o filme ainda marcou época pela sensibilidade com que dramatiza as situações. Nesse sentido, não são poucos os momentos comoventes da película - sendo um dos mais emocionantes aquele em que Calvin (o pai) lembra da preocupação de Beth em relação aos sapatos que usaria no funeral do filho. O final "feliz" (e doloroso) - após uma espécie de catarse vivida por Conrad - é a prova que pode ser mais fácil seguir em frente se estivermos distantes daqueles que amamos. Ou ao menos que pensamos que amamos.
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