Cena: Heeeere's Johnny!!
Uma revisão em O Iluminado (The Shining) nos faz perceber que, sim, este é um filme menor na carreira do diretor Stanley Kubrick - e não é por acaso que a obra, à época, recebeu duas indicações para o Framboesa de Ouro (nas categorias Pior Filme e Pior Atriz, para Shelley Duvall). Aliás, atualmente, é público e notório que o próprio Stephen King não gostou do resultado final e nem da atuação de Jack Nicholson que, com a sua falta de sutileza, transforma o seu Jack Torrance em um psicopata em potencial desde os primeiros minutos da película. Mas, mesmo com tantos problemas, o filme é adorado por muitos, contando com uma série de cenas icônicas - entre elas a do garotinho que percorre com um triciclo os corredores do hotel Overlook (local em que a trama acontece), a da máquina de escrever com a frase all work and no play makes Jack a dull boy e a da perseguição em uma espécie de labirinto feito com arbustos, na parte externa do local.
Mas é provável que poucas cenas do filme (e talvez até da história do cinema) sejam tão lembradas e parodiadas quando aquela em que Jack, perseguindo a esposa Wendy (Duvall), abre a machadadas a porta de um banheiro para, em seguida, colocar a cabeça por entre a abertura, gritando a inesquecível frase "heeeeeere's Johnny!". A sequência em questão ocorre no terceiro ato do filme e ocorre no momento em que a personagem de Jack Nicholson está no auge da paranoia provocada pelo isolamento e pela pressão de escrever um novo livro (o que leva a família ao hotel). Conforme os dias passam no local, Jack vai se tornando mais agressivo, ao passo que o seu filho (Danny Lloyd) passa a ter visões apavorantes de acontecimentos ocorridos no passado e que também teriam sido causados pela opressão provocada pela sensação de isolamento.
Improvisada por Nicholson, a cena faz alusão a um bordão usado pelo ator Ed McMahon no programa The Tonight Show - Starring Johnny Carson, que era exibido no começo dos anos 80. De lá para cá, a despeito dos problemas apresentados pela película - que vão da péssima interpretação de Duvall ao roteiro que não deixa margem para qualquer sugestão - a obra é permanentemente lembrada pela opulenta face de Nicholson que espreita através da porta, com seu olhar psicótico e sorriso idem. Macabra e capaz de fazer gelar o sangue de qualquer espectador - a trilha sonora e a edição apavorantes também contribuem para essa sensação -, a cena é imitada em programas de humor, videoclipes e jogos de videogame, tendo um peso semiótico (e de suspense e pavor) que só é capaz de ser superado pela cena do chuveiro, em Psicose (1960). Nesse sentido, é o complemento perfeito para uma das mais claustrofóbicas obras sobre "bloqueio criativo" que se tem notícia.
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