terça-feira, 24 de julho de 2018

Pérolas da Netflix - Newness (Newness)

De: Drake Doremus. Com Nicholas Hoult, Laia Costa e Danny Houston. Drama / Romance, EUA, 2018, 117 minutos.

"Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino - aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido." Essa frase atribuída ao escritor e filósofo Zygmunt Bauman - autor do livro Amor Líquido - não poderia ser mais adequada para resumir os eventos que assistimos ao ótimo (e surpreendente) Newness (Newness), disponível na Netflix. Ainda que o resumo disponível na plataforma de streaming pouco diga sobre o filme, o caso é que se trata de um verdadeiro manifesto sobre os relacionamentos na modernidade, onde importa menos qualquer tipo de compromisso e mais o hedonismo e a busca pelo satisfação pessoal e pela própria felicidade acima de tudo - ainda que isso signifique um sem fim de amores efêmeros e de muita frustração.

Quem já utilizou aplicativos de relacionamentos como Tinder ou Happn sabe que a oferta é grande (e a facilidade também). Mas como saber se aquela nova pessoa que estamos saindo será A PESSOA em nossas vidas? Bom, não há como saber a não ser conhecendo, tentando, reconhecendo equívocos e tentando novamente, até acertar (ou não). É exatamente este o caso de Martin (Nicholas Hoult) e Gabi (Laia Costa). Ele, um farmacêutico de 30 anos; ela uma estudante de biologia da mesma idade que trocou a Espanha pelos Estados Unidos. No primeiro encontro entre eles, ainda que estabelecidos os mais variados vínculos - eles conversam, bebem juntos, se divertem em uma boa, transam - uma triste (e moderna) constatação: a da necessidade de conhecer coisas novas, o tempo todo. Bom, se as ofertas são amplas e variadas e os jovens são bombardeados o tempo todo por uma grande quantidade de informações, não seria diferente com as relações.



O filme trata tudo da forma mais honesta (e eventualmente melancólica) possível. Há sim espaço para que se constate a importância de se ter alguém para dividir alegrias, dores e anseios, mas há também o desdobramento de um contexto em que jovens na casa dos "trinta e alguma coisa" parecem não saber muito bem o que pensar do futuro. Enquanto o melhor amigo de Martin já está casado, com filho e com uma vida a dois aparentemente sem novidades (e tediosa), este procura oxigenar o seu recém-iniciado namoro com Gabi com uma inesperada sugestão para um relacionamento aberto - que só funcionará se ambos forem sinceros um com o outro o tempo todo. Mas será que ambos estão confortáveis com isso? O que será o certo afinal? Os dilemas dos protagonistas, que querem experimentar, conhecer coisas novas e permanecer curiosos sobre o mundo (e sobre tudo) parecem ser os dilemas descritos por Bauman a respeito dos tempos líquidos que vivemos, em que nada parece duradouro.

Com mais perguntas do que respostas, a obra foge um pouco do convencional ao não oferecer soluções fáceis, nem julgar seus personagens por aquilo que estão fazendo - e que envolve a busca da felicidade acima de tudo (ainda que isso signifique acertos, erros e mágoas). Com excelentes caracterizações da dupla de protagonistas - o naturalismo impressiona -, a obra ainda aposta em sequências singelas e em frases de efeito capazes de arrebatar qualquer espectador, como no momento em que Gabi lembra Martin de que "amor é quando duas pessoas não desistem uma da outra". É nesse retrato da busca por romance em uma era tão tecnológica que Drake Doremus constrói uma película que dialoga diretamente com a Geração Y, escancarando o fato de que os tempos mudaram e que ninguém é obrigado a ficar para sempre com aquela pessoa que não se ama - por medo ou por qualquer outra convenção social. Certo ou errado? Diferente? O espectador decide.

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