quinta-feira, 12 de julho de 2018

Pérolas da Netflix - Anon (Anon)

De Andrew Niccol. Com Clive Owen, Amanda Seyfried e Colm Feore. Suspense / Ficção Científica, EUA, 2018, 100 minutos.

De Gattaca - Experiência Genética (1997) a O Preço do Amanhã (2011), os filmes do diretor Andrew Niccol costumam parecer versões estendidas dos episódios da série Black Mirror. Nesse sentido, o clima de distopia futurista em um mundo tecnológico e individualista também aparece em Anon (Anon), uma de suas mais recentes obras, que está disponível na Netflix. O que para quem gosta de ficção científica com boas doses de suspense, se configura em um prato cheio. A trama nos joga para um futuro onde não existem mais crimes que não sejam solucionados, efeito de um sistema de vigilância extrema que utiliza imagens geradas por uma espécie de chip ou aplicativo implantado nos olhos das pessoas (conhecido como Olho da Mente) - o que permite a gravação e a exibição futura de tudo aquilo que é falado, visto e ouvido por cada indivíduo (falando em Black Mirror, expediente semelhante foi utilizado no episódio The Entire History Of You, da primeira temporada).

Só que um hacker que ataca de assassino em série descobre como burlar o sistema, alterando o campo de visão de suas vítimas para o seu próprio ponto de vista, o que possibilita que ele tenha a sua identidade preservada (parece meio complexo, mas assistindo o filme não é tão complicado entender). É aí que entra em cena o detetive Sal Friedland (Clive Owen), que tentará uma aproximação com uma das principais suspeitas, a misteriosa Anon do título (vivida por Amanda Seyfried). O jogo de gato e rato envolverá encontros com o objetivo de identificar as reais intenções da jovem, que subverteu o sistema e vive no anonimato, recebendo dinheiro para deletar imagens "indesejadas" de seus clientes (seja de crimes cometidos, de uso de drogas, de encontros com prostitutas ou outros). Só que o que Sal pretende descobrir os motivos pelos quais a hacker acaba, invariavelmente, assassinando os seus clientes/vítimas - o que representará um risco, inegavelmente.



Niccol, como é de praxe nos filmes de ficção científica, transforma a cidade - e mesmo seus prédios e apartamentos - em uma metrópole fria e acinzentada (condição que reforça não apenas a sensação de isolamento, mas também a tensão vivida por aqueles que assistimos). Tudo é muito insípido, limpinho, higienizado, não havendo espaço para comportamentos ambíguos, para roupas extravagantes, ou para qualquer tipo de "cor" nesse mundo em que todos sabem o que cada um faz - como se vivêssemos numa versão ampliada de um mundo em que a vigilância extrema e as câmeras de segurança funcionam como parte integrante de nossas vidas. Tudo parece ser mecânico, do figurino econômico (e acinzentado), passando pelas existências vazias, até chegar ao sexo protocolar, o mundo em que o Olho da Mente existe (com seus dados gerados de forma permanente e atualizados), não permitirá qualquer subversão, insubordinação ou desobediência.

Ator talentoso de nossa geração - ainda que meio esquecido - Owen se esforça para entregar uma caracterização de um homem correto, mas que guarda segredos do passado que lhe devastam (e que envolvem, só pra não fugir do clichê, a morte do filho). Já Amanda é a boa surpresa da película, ao aparecer como uma mulher misteriosa, que nos deixa em dúvida o tempo inteiro sobre o seu caráter vilanesco ou não. Não é um filme que vai mudar o mundo ou que será lembrado como uma das grandes ficções científicas da atualidade - ainda que haja boas surpresas no processo. Mas para quem busca uma obra escapista - e que passa de raspão no debate a respeito dessa nossa mania tão moderna de observar o outro ou do voyeurismo (seja no Instagram ou em outras redes sociais) -, esse se torna o filme certo.

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