segunda-feira, 23 de julho de 2018

Tesouros Cinéfilos - Simplesmente Amor (Love Actually)

De: Richard Curtis. Com Hugh Grant, Liam Neeson, Emma Thompson, Laura Linney, Colin Firth, Keira Knightley e Bill Nighy. Comédia romântica, França / EUA / Reino Unido / Irlanda, 2003, 130 minutos.

No mundo em que vivemos - tão cheio de ódio, de intolerância e de preconceito - poder assistir a um filme como Simplesmente Amor (Love Actually) é um verdadeiro alento. É filme para ver e rever sempre que quiser (ou sempre que for necessário sorrir descompromissadamente). A trama consiste-se em várias histórias acontecendo ao mesmo tempo e todas elas de alguma forma tem a ver com o amor, a paixão ou as dores e alegrias decorrentes de relacionamentos os mais variados. E como se não bastasse a dinâmica bastante peculiar da obra, o diretor Richard Curtis reuniu um elenco poucas vezes repetido e que conta com nomes de peso como Hugh Grant, Liam Neeson, Emma Thompson, Laura Linney, Colin Firth, Alan Rickman, Keira Knightley, Chiwetel Ejiofor, Bill Nighy e Billy Bob Thornton - além de um Andrew Lincoln (The Walking Dead) em começo de carreira e Rodrigo Santoro. Ufa!

Mesclando histórias mais engraçadas - como a que envolve o decadente cantor de rock Blly Mack (Nighy), que sonha em emplacar um grande hit de Natal - com outras mais melancólicas (e tocantes) - como a que envolve o viúvo Daniel (Neeson), que tenta de todas formas auxiliar o seu enteado de apenas 11 anos a se aproximar de seu "grande amor" - a película constrói um verdadeiro panorama dos relacionamentos em histórias que, de alguma forma se entrelaçam, e que, no fim das contas, dizem respeito a cada um de nós. Quem nunca se apaixonou na escola por aquela garotinha tão especial? Ou viu o amor da sua vida se tornar namorada (ou esposa) do seu melhor amigo? Quem nunca teve alguma insegurança na hora de aproximar daquela pessoa que faz o coração bater num ritmo meio diferente, enchendo nosso estômago de "borboletas"? É ao humanizar todas as suas personagens - tão cheias de anseios, de medos, de incertezas - que Curtis acerta em cheio o coração do espectador, que se identifica com várias situações.



Na trama sai de cena o Hugh Grant permanentemente galanteador para surgir na tela um primeiro-ministro inseguro e que tem dificuldade de lidar com a paixão por uma empregada. O mesmo vale para o escritor Jamie (Firth), que sente um amor incontrolável (e quase improvável) pela portuguesa Aurélia (Lúcia Moniz). O amor não escolhe classe social, raça, tamanho, gênero (aliás, única ausência sentida na película é a o do romance homossexual, o que certamente não iria faltar se a obra tivesse sido feita nos dias de hoje). O amor apenas acontece - imprevisível, inexplicável e é isso que a película se empenha em mostrar. Nesse sentido não são poucas as sequências inesquecíveis, especialmente no terço final, quando ocorre um grande encontro no aeroporto - e a opção por utilizar cenas reais das pessoas se encontrando em tal ambiente não poderia ser mais tocante.

Com trilha sonora imperdível - de nomes como Dido, Maroon 5, Norah Jones, The Calling e Joni Mitchell - a película ainda utiliza as sequências com Nighy para transformar a música Love Is All Around do Wet Wet Wet em uma nova obra - toda esquisita na métrica, mas inacreditavelmente envolvente. (e assistir ao ator claramente se divertindo como o debochado roqueiro, certamente é algo que rende boas risadas). Há um jargão que diz que comédias românticas são todas iguais e que a gente sempre sabe o que vai acontecer no final. Menos com Simplesmente Amor. Tudo é diferente, nada lógico, inexorável. Assim como uma paixão que vem e vai e dura uma temporada, as pouco mais de duas horas passam voando e, quando percebemos, já estamos apaixonados. Um achado.

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