quarta-feira, 18 de julho de 2018

Cinema - 50 São os Novos 30 (Marie-Francine)

De: Valérie Lemercier. Com Valérie Lemercier, Patrick Timsit, Hélène Vincent e Philippe Laudenbach. Comédia, França, 2017, 95 minutos.

A ideia para o filme 50 São os Novos 30 (Marie-Francine) é ótima - mas é uma pena que ela seja tão mal executada. Na trama a Marie-Francine do título original é uma mulher na casa dos 50 anos (Valérie Lemercier), que acaba de se separar do marido - que a trocou por uma mulher bem mais nova - e de perder o seu emprego em um laboratório de biotecnologia. Como se já não bastasse o abalo natural provocado pela situação, ela ainda passará por dificuldades para conseguir um fiador que lhe possibilite o aluguel de um apartamento, após o divórcio. O resultado? Ela volta a morar, temporariamente, na casa dos pais. Como forma de tentar tocar a vida, ela abre uma loja que vende cigarros eletrônicos. Será no local que ela atrairá a atenção do chef de cozinha Miguel (Patrick Timsit), que trabalha em um restaurante da vizinhança e que, surpresa, após se separar, vive a mesma situação.

Sim, a ideia é boa e rende algumas divertidas piadas - especialmente no começo, com os pais tratando a protagonista de forma infantilizada, com excesso de zelo, como se esta fosse uma criança (a cena do pai de Marie-Francine desesperado, procurando-a dentro do mercado, é uma das melhores)! Da mesma forma, também merece destaque a opção de Lemercier (que também dirige) em não apostar no clichê da mulher madura que, após uma separação, rejuvenesce, reaparecendo muito mais bonita que no passado. Ao contrário, Marie-Francine é uma figura "naturalmente" desleixada, inegavelmente depressiva - como constatam alguns de seus clientes -, e invariavelmente debochada. O que resulta em algumas divertidas sequências (e diálogos), como na parte em que os pais de Marie-Francine tentam lhe arrumar um pretendente. "Um gay, um depressivo e um alcoólatra", constata uma enfadada protagonista, diante das opções oferecidas.



Só que a obra peca ao apostar em alguns arcos dramáticos secundários que jamais se aprofundam. Por exemplo, no começo da película, uma das filhas de Francine faz, para ela, um perfil em uma rede social de relacionamento (com direito a foto feita no parque e tudo). Talvez fosse divertido acompanhar os possíveis pretendentes que pudessem surgir dessa ideia - mas, infelizmente, ela é inexplicavelmente abandonada depois. A pressa da mesma filha em casar, ter filhos e constituir família com o seu "casinho" - mesmo aos 16 anos - também é esquecida depois, assim como a própria filha, que quase some do filme. Outras subtramas, como o caso de traição envolvendo a mãe da protagonista ou mesmo a conturbada relação de Miguel com seu chefe, jamais ganham alguma profundidade, que talvez fizesse com que nos importássemos mais com aqueles que vemos na tela. Ocorre que, assim, a obra se torna meio nonsense e esquisitamente inverossímil - mesmo para uma comédia.

Mas, vá lá, voltamos a dizer: não é ruim. Há boas caracterizações - a veterana Hélène Vincent está absolutamente impagável como a mãe de Francine (que se comporta quase como se fosse a sua filha). Já personagens secundários como a sous chef Nadege (Nadege Beausson-Diagne) roubam a cena, com comentários sociais divertidos e repletos de carisma. No fim das contas é uma película sobre um dos maiores problemas dos adultos de meia-idade - mas que, por optar por um tratamento mais cômico, deixa de lado as naturais angústias, medos e inseguranças que poderiam aflorar em tal situação. E, nesse sentido, por mais que Miguel tenha alguma carisma e Francine seja desajeitadamente engraçada, o caso é que o tempo todo eles parecem muito mais dois amigos, do que dois amantes. O que também compromete o resultado final - já que, em comédias românticas, o desejo do público em ver os protagonistas juntos é aquilo que faz a experiência valer a pena.

Nota: 6,0

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