segunda-feira, 30 de julho de 2018

Tesouros Cinéfilos - O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile)

De: Mike Newell. Com Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal e Marcia Gay Harden. Comédia dramática / Romance, EUA, 2003, 117 minutos.

De Ao Mestre Com Carinho (1967) a Sociedade dos Poetas Mortos (1989) não foram poucos os filmes que tomaram por base a história de professores com idéias mais progressistas tendo de conviver com ambientes (e alunos) mais conservadores. No caso do belo O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile) a trama nos joga para o ano de 1953, onde Julia Roberts dá vida a professora Katharine Watson que, recém-graduada, consegue uma vaga para lecionar a disciplina de História da Arte no prestigiado colégio Wellesley. Do estranhamento inicial com o comportamento absolutamente padronizado das estudantes até a tentativa de modificar o modelo estabelecido - com a mulher destinada a casar e ter filhos - Katharine buscará superar a desconfiança inicial de todos (dos diretores da escola às alunas) para tentar fazer com que elas percebam que podem fazer mais do que apenas "esperar o marido com um sorriso no rosto e com a janta pronta às 17h".

Sim, é daquele tipo de filme que deixa as famílias de bem, conservadoras e votantes do Bolsonaro de cabelos em pé mas que, 15 anos depois de lançado, ainda segue tendo um debate mais do que necessário - especialmente em um cenário em que, pasmem, ainda parece não haver um pleno entendimento da importância das discussões sobre o respeito a igualdade de gêneros. Entre as alunas de Katharine há aquelas que estão felizes com o casamento que se aproxima - caso de Betty (Kirsten Dunst) - e há aquelas que estão em dúvidas a respeito do futuro, como é o caso de Joan (Julia Stiles) que, a despeito de amar o noivo Tommy (Topher Grace), parece sonhar secretamente com uma faculdade na área de Direito. Aliás, é um filme sobre um período da vida importante para qualquer pessoa, cheio de dúvidas e de inseguranças que, em 1953, parecem ainda maiores, especialmente para jovens na casa dos 16 ou 17 anos vivendo em meio a um contexto antiquado, anacrônico, retrógrado.


Ainda que erga claramente a sua "bandeira" o filme do diretor Mike Newel (Quatro Casamentos e Um Funeral) sempre o faz com elegância, jamais tentando esfregar na cara dos espectadores os seus objetivos ou jamais exigindo que aquilo que ele sugere seja lei. Por exemplo, em uma das mais tocantes sequências da película, Katharine tem uma longa discussão com Joan, que está disposta a largar a oportunidade de seguir para a faculdade em Yale para realizar o sonho de ser esposa e mãe. Ela garante que, SIM, aquele é o sonho dela, restando para Katharine (e também para o espectador que acompanha muito de perto a sua jornada) a compreensão da situação e o desejo de felicidades. Isto não impede o fato de Katharine tentar expôr, a muito custo, que ela pode ser as duas coisas se quiser - mãe e dona de casa e uma futura e bem-sucedida profissional da área jurídica. E esse é o grande esforço da obra!

Como não poderia deixar de ser, o elenco feminino está simplesmente maravilhoso - ele é completado pelas presenças magnéticas de Maggie Gyllenhaal (como uma jovem libertária), Ginnifer Goodwin (uma garota que sonha em encontrar o seu grande amor) e a "sumida" Marcia Gay Harden (que, interpretando uma amargurada e solitária professora, eleva a obra a um outro patamar). Mas o filme é todo de Julia Roberts que emociona em seu esforço, buscando o equilíbrio entre aquilo que prega e as idas e vindas relacionadas a sua vida pessoal - e a cena em que ela dá uma resposta "na lata" de Bill (Dominic West) sobre homens que "permitem" ou não que suas mulheres façam determinadas coisas, está entre as melhores. Como alegoria de um tempo em que as mulheres lutavam para conquistar mais direitos - mesmo o de estudar, em um ambiente tradicionalmente machista - O Sorriso de Monalisa, com a sua linda mistura de filme de arte (e da arte como metáfora para a desconstrução de idéias) com romance contemporâneo, segue sendo uma história não apenas atual, mas totalmente necessária.




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