segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Pérolas do Netflix - Homem na Parede (The Man In the Wall)

De: Evgeny Ruman. Com Tamar Alkan, Gilad Kahana, Roi Miller e Yoav Donnat. Drama / Suspense, Israel, 2015, 92 minutos.

Quase sempre são acertadas as incursões cinematográficas que buscam abordar as dificuldades de relacionamento entre casais, quaisquer que sejam os motivos. De De Olhos bem Fechados (1999) a Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), passando ainda por Foi Apenas Um Sonho (2008) - isso só para citar alguns exemplos bem atuais - não foram poucos os diretores que ousaram tematizar as dores, anseios e traumas da vida a dois. E o ótimo - e essencialmente instigante - Homem na Parede (The Man In the Wall) filme original de Israel, a despeito do título original em inglês, mostra que nem só de Hollywood vive esse filão. Aliás, muito pelo contrário: ao apresentar uma obra absolutamente tensa, inventiva e envolvente - sem falar na qualidade técnica -, o diretor Evgeny Ruman ainda consegue injetar certo frescor a este tipo de narrativa.

O filme começa com a protagonista Shir (Tamar Alkan) sendo acordada de uma soneca de meio de tarde por meio de batidas na porta de seu apartamento. Se trata do senhorio que lhe entrega o cachorro, Bruno, que estava sozinho, no pátio, sem ninguém a cuidar dele. O caso é que o marido de Shir havia saído com Bruno. O cachorro retornou. O marido não. O que inicialmente se trata de mera curiosidade, passa a ser motivo de preocupação quando Shir percebe que todos os objetos de Rami (Gilad Kahana) - celular, carteira - estão em casa. E tudo piora quando ela liga para a polícia e para os hospitais da região com o objetivo de descobrir a ocorrência de algum tipo de incidente, mas não consegue qualquer tipo de informação. E o pior: para a polícia considerar alguém como "desaparecido" são necessárias ao menos 24 horas sem notícias para que se inicie uma investigação.


A trama é simples, mas extremamente engenhosa (e realista) ao denunciar até que ponto o ser humano é capaz de chegar na ânsia de encontrar respostas para as suas frustrações. E de como certas atitudes - especialmente quando baseadas na mais pura mentira - podem representar o caminho para a derrocada de um casamento. Enquanto aguarda por qualquer notícia de Rami, Shir receberá, madrugada adentro, uma série de visitantes, estando entre eles a própria polícia, um casal de amigos, o melhor amigo de Rami, um amante, a sua mãe, uma traficante... A cada encontro novas revelações serão despejadas no colo da protagonista fazendo com que ela se questione a respeito de tudo aquilo que viveu com o marido até aquele momento. E que mostrará o fato de que, mais do que um desaparecimento do ponto de vista físico, no fundo também parece haver um sumiço completo da intimidade, da empatia e do entender (e conhecer) o outro. Sensação ampliada, ainda, por uma série de alucinações que provocarão ainda mais confusão na mente da protagonista.

Apresentando o apartamento de Shir e de Rami como um ambiente absolutamente apertado e claustrofóbico - com decoração cinzenta e monótona -, o filme ainda utiliza os cômodos do prédio para, de certa forma, metaforizar os relacionamento modernos, em que casais se sufocam no dia a dia, encontrando a tão sonhada "liberdade" em vidas duplas, moralmente duvidosas e recheadas de falsas expectativas. E se os longos planos-sequência, muitos deles de mais de 10 minutos, poderiam representar apenas um exercício virtuosístico inócuo, é possível dizer que eles são muito bem executados, contribuindo para a construção do senso de realidade a respeito daquilo que se vê - com a câmera passeando subjetivamente pelo apartamento (a ponto de ouvirmos até mesmo uma misteriosa respiração, em meio a uma das tantas sequências de suspense). Tendo ainda na interpretação de Alkan um de seus pontos fortes - ela aparece simplesmente em TODAS as cenas - essa verdadeira Pérola presente no Netflix, apenas corrobora a tese de que Israel é, na atualidade, um excelente pólo cinematográfico. O que, por si só, já seria motivo suficiente para conferir o filme.

3 comentários:

  1. Grande dica, grande filme. Voltarei mais vezes

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  2. Grande filme, como diz o autor é mais do que um desaparecimento físico, é uma rotura dos valores do casal e uma falsa intimidade, aflora, vale a pena para refletir.

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