Não deixa de impressionar a capacidade que a cantora Céu tem de se reinventar, ainda que de maneira sutil, a cada novo registro. Evidentemente o fio condutor de cada um dos quatro álbuns até então lançados - incluindo o recente Tropix - segue sendo a sua voz absolutamente melodiosa, em alguns momentos intimista, em outros mais expansiva, mas sempre afinada. Ainda assim, aqui e ali, a artista costuma envernizar cada trabalho com uma abordagem sempre única, sendo esta capaz de relacioná-la não apenas ao momento vivido pela paulista, mas também pelo contexto artístico em que está inserida. É como se esta fosse uma espécie de espectro capaz de absorver, da maneira mais natural possível, o seu entorno - especialmente as emanações artísticas -, transformando cada disco em um retrato não menos do que simbólico do que pode ser chamado de modernidade.
Parece complicado mas não é. Difícil mesmo é uma definição simplista da cantora como uma artista da MPB - ainda que não haja absolutamente nada de pejorativo nisso. O fato é que, em entrevistas anteriores, Céu já afirmou que gosta de beber de diversas fontes, que vão da música jamaicana a etíope, do soul ao hip hop. O que certamente explica a grande variedade de experimentos sonoros em cada registro. Se no primeiro trabalho, o homônimo CéU (2005) predominava a MPB direta, romântica, com ares teatrais, com percussão bem pontuada e uma certa predileção pelo regionalismo, em Vagarosa (2009) já se tornam mais visíveis as influências do samba (e suas vertentes), com uma certa malemolência urbana, um quê de malandragem, com cuícas, cavaquinhos e bandolins aparecendo eventualmente. E o que dizer de Caravana Sereia Bloom (2012), com seu clima retrô-empoeirado, meio dream pop urbano? Céu, definitivamente não fica no mesmo lugar.
Com Tropix, desde já sério candidato a figurar nas primeiras posições entre os melhores discos nacionais de 2016, a pequena mudança sutil - aquela referida no primeiro parágrafo - surge na predileção por sons mais eletrônicos, com o uso de sintetizadores minimalistas, teclados sutis, efeitos levemente dançantes e outros barulhinhos que aparecem em cada curva do trabalho sempre de maneira discreta, apresentados com calma, sem correria. Não há exatamente um "conceito" que garanta um caráter homogêneo no registro - o que, evidentemente, não se constitui em um problema. Ainda assim, em muitos casos, parece ser o distanciamento entre os indivíduos, sejam eles reais ou virtuais, um tema que surge com mais frequência. Sensação ampliada pela ótima Perfume do Invisível, ou mesmo pela tecnológica Amor Pixelado, que são bons exemplos dessa preferência.
Com produção de Pupillo (Nação Zumbi) e do francês Hervé Salters - que garantem um som absolutamente limpo, sempre destacando o vocal nítido da cantora, ainda que eventualmente surjam emanações mais empoeiradas (ou sujas), como em A Menina e o Monstro -, Tropix tem ainda participação especial de outro dos grandes nomes nacionais do momento: a cantora Tulipa Ruiz, que contribui na atmosférica (e dançante) Pot-Pourri: Etílica/ Interlúdio. Isso sem contar a execução absolutamente original do time de colaboradores, o que torna a experiência ainda mais irresistível e encantadora - como ficar alheio, por exemplo, a inacreditavelmente graciosa Minhas Bics? Nesse sentido, não faltam motivos para que aqueles que ainda não estejam iniciados no trabalho da artista, comecem a navegar pela sua musicalidade ao mesmo tempo tropical e vintage. E que é capaz de proporcionar infinitas sensações no ouvinte.
Nota: 9,0
Bah!! Vou ter que ouvir agora!! Depois conto o que achei heheheheheh Beijoss
ResponderExcluirMas que honra receber um comentário teu por aqui, Aninha! Tenho certeza de que vais curtir! =D Beijos!
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