segunda-feira, 18 de abril de 2016

Cinema - A Juventude (Youth)

De: Paolo Sorrentino. Com Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Paulo Dano e Jane Fonda. Drama / Comédia, Itália / França / Suíça / Reino Unido, 2015, 124 minutos.

Pra quem gosta de cinema enquanto manifestação artística para além do simples entretenimento, o mais recente filme do diretor italiano Paolo Sorrentino, o espetacular A Juventude (Youth) é um prato cheio. Assim como em seu trabalho anterior, o oscarizado e primoroso A Grande Beleza, aqui não se tem uma história no formato a que estamos acostumados, com começo, meio e fim bem definidos, um arco dramático suficientemente claro ou uma gramática fílmica aos moldes daquilo que se faz em Hollywood. Para Sorrentino, a construção de uma obra escapa um tanto desse caráter mais convencional para que possamos aproveitar o cinema para além do mosaico essencialmente visual (e simples) apresentado, não surpreendendo, portanto, o caráter por vezes atmosférico, climático ou catártico daquilo que presenciamos em cada um de seus filmes. Em suma, é um daqueles prazeres que talvez experimentemos ao assistir a algum clássico do cinema. Ou mesmo a alguma película que aborde um tema - qualquer que seja - sem apelar para a pieguice ou para o sentimentalismo barato.

Se fosse possível resumir em uma frase sobre o quê é este filme, muito provavelmente ele é a respeito da velhice, mais precisamente de como envelhecemos, e de como encaramos o mundo no momento em que nos aproximamos do ocaso de nossa existência. Na trama somos apresentados a dois idosos de cerca de 80 anos, que passam férias em um luxuoso hotel. Um deles, Fred (Michael Caine), é um maestro aposentado que, a despeito dos convites para voltar a ativa - um deles da Rainha da Inglaterra "em pessoa" - não parece interessado a retornar aos seus tempos áureos. Já Mick (Harvey Keitel) é um diretor de cinema ainda em atividade, capaz ainda de se frustrar e de viver verdadeiramente as alegrias e os dissabores da profissão. Nesse sentido, dadas as motivações de cada um - e os dois são amigos de infância -, ambos encaram de maneira diferente tanto o presente quanto o futuro.



O dia a dia de ambos é vivido em meio a lembranças da juventude - bem como de suas frustrações e romances -, dificuldades típicas da idade (urinar de maneira voluptuosa é motivo de comemoração) e em cenários absolutamente deslumbrantes, com fotografia de Luca Bigazzi idem. Ao redor deles trafegam coadjuvantes pra lá de interessantes, como o ator Jimmy Tree (o sempre competente Paulo Dano) conhecido por um único papel do passado - e também frustrado -, a filha de Fred, Lena (Rachel Weisz), que passa por um doloroso divórcio, além de uma antiga e histriônica atriz do passado (Jane Fonda), que reaparece para infernizar a vida de Mick. Fora outros hóspedes do hotel - caso de um surpreendentemente gordo ex-jogador de futebol argentino e canhoto - não precisamos nem dizer com quem ele se parece. A nós espectadores, cabe o papel de observadores desse microcosmo repleto de pessoas tão distintas quanto semelhantes no que diz respeito as angústias, as ansiedades e a outros sentimentos típicos de um ser humano.

Nas entrelinhas é possível perceber uma série de "pequenos debates" promovidos pelo diretor em sua obra e que abordam desde o preconceito - uma Miss Universo é sempre burra? Um sujeito introspectivo e de barba grande é sempre um psicopata social? O casal que não se fala não se ama? - até a necessidade que temos de sermos reconhecidos por aquilo que fazemos e que, em muitos casos, é aquilo que nos torna apaixonados em nossas rotinas. Onírico, sensorial, eventualmente surrealista, A Juventude é daqueles filmes que ficam martelando em nossas cabeças por horas, após finalizada a sessão - essencialmente por representar algo especial, ainda que, eventualmente cínico, no que diz respeito àquilo a que se propõe "analisar", que é o mundo das artes. E se você sair da sala de cinema com aquela sensação de "não entendi totalmente", não se preocupe. Há filmes que foram feitos mais para sentir do que para entender. E este é um deles.

Nota: 9,0

8 comentários:

  1. Deve ser o Bixo! Mas convenhamos...escreve bem esse meu colega! Me sinto "preparada" para assistir o filme! Abraço

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    1. Toti, queridona! FEliz em te ver aqui nos comentários! E muito obrigado pelo elogio. É aquilo que nos anima a seguir fazendo o Picanha! Abração! =D

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  2. Deve ser o Bixo! Mas convenhamos...escreve bem esse meu colega! Me sinto "preparada" para assistir o filme! Abraço

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  3. Vontade de assistir é o que não me falta agora. Escreve muito! Beijão

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    1. Jojôôô! Acho que você vai curtir esse! Beijos, queridona! =D

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  4. Vontade de assistir é o que não me falta agora. Escreve muito! Beijão

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  5. Deliciosa resenha. Agora é ver o filme e confirmar a competência do resenhista. :-)

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    1. Nunca havíamos recebido três comentários!! Que legal! Obrigado Meire pelo elogio. Nossa, daquelas coisas que nos motivam a seguir nesse "brinquedo" mais do que sério! =D

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