segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Disco da Semana - Silva (Júpiter)

Para aqueles que acreditam que a evolução natural de um músico está diretamente relacionada ao alcance de uma certa complexidade nos versos e de algum requinte na parte instrumental, temos uma má notícia relacionada ao novo disco do capixaba Silva: ele nunca foi tão simples. Tão direto. Tão descomplicado e pouco enfeitado como no recém lançado Júpiter - terceiro trabalho, após os elogiados Claridão (2012) e Vista Pro Mar (2014). Se nos dois primeiros álbuns, o cantor, compositor e multi-instrumentista brincava com as possibilidades trazidas pelo uso de sintetizadores ensolarados e bem elaborados, que serviam de base para versos mais sutis e que eram capazes de dizer muito sem dizer, agora o que vale é o alcance universal a partir de uma coleção de canções (ainda mais) pop e românticas, repletas de refrãos cantaroláveis e rimas simples.

Mas o mais legal de tudo é que há sinceridade e honestidade no material que o artista lança. O que pode ser percebido, inclusive, na carta de apresentação que Silva publicou, assim que lançou o trabalho. Nela, o cantor admite ter viajado muito nos últimos quatro anos, tendo conhecido muitas pessoas e culturas que contribuíram para a sua formação musical. "Nunca parei de produzir música, é a minha vida. [..] E toda a mudança, nesse período, certamente está mais clara agora, com Júpiter", garante. Em outra parte da carta, o capixaba explica que, sim, a ideia foi a de ser o mais minimalista possível e que elaborou as canções a partir de esboços feitos desde 2014 "na estrada, entre voos, quarto de hoteis e ideias gravados no celular, em meio a festas ou conversas com os amigos".



A consequência dessa proposta vai ao encontro daquela que percebemos no álbum, muito mais direto, sem firulas, palatável, se tornando ainda mais simples daquilo que já possa ter sido entregue anteriormente. O que pode ser notado, inclusive, na capa de poucos elementos (e até meio brega) e na curtíssima duração do registro - que mal e mal ultrapassa os 35 minutos.  Ainda assim, é preciso que se diga, Silva, em seu emaranhado pop conciso, em que a sua voz se sobrepõe a parte sonora, transforma Júpiter, no caso maior planeta do sistema solar, como uma espécie de cenário idílico e alternativo para uma espécie de fuga para um mundo cheio de preconceito, de intolerância e de violência em que vivemos hoje. Algo que pode ser percebido, por exemplo, na faixa título (Júpiter pode ser/ Começar de novo/ Se por lá não houver/ Esse mesmo povo/ Que só quer controlar/ O que a gente quer).

Mas é, definitivamente, nas composições recheadas de alta carga romântica que a simplicidade transparece de forma ainda mais clara, com os versos e batidas que não fariam feio no catálogo de sucessos pegajosos de artistas tão distintos como Sampa Crew, Twister ou Lulu Santos, ficando a critério de cada ouvinte a decisão sobre isso ser bom ou ruim. Não é do jeito que você pensou/ Não é tão perfeito/É só como sou canta Silva de forma honesta na ótima Sou Desse Jeito. O expediente é repetido em Nas Horas (A gente faz tudo ser real/ Você eu noite a clarear / Há quem duvide do verbo amar/ Eu já rezo o verbo todo), Feliz e Ponto (Eu quis tanto ter você/ Quando você não me quis/ E agora a gente é/ Feliz e ponto) e Se Ela Volta (Se ela voltar/ Vou dizer te amo/ Se ela não voltar/ Penso em outro plano). Sim, Silva está simples. Talvez para alguns até repetitivo em seus temas. Mas segue ótimo de ouvir.

Nota: 7,7

3 comentários:

  1. Sua análise traduz o que senti. Cada vez mais adorando o trabalho de Silva

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    1. Ficamos felizes com o seu comentário, Paulo! E o Silva, simples ou não, segue ótimo! Grande abraço! =)

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  2. Sua análise traduz o que senti. Cada vez mais adorando o trabalho de Silva

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