terça-feira, 17 de novembro de 2015

Pra Ouvir - Maglore

Volta e meia a gente descobre uma nova banda nacional que se torna, quase que de imediato, mais uma daquelas "do coração". Que você passa a ouvir e ouvir e que permanece dias, semanas, até meses na sua playlist. Com aquelas músicas que lhe tocam, que lhe envolvem. Bom, tenho me deparado com tantos artistas, músicos, compositores e instrumentistas de altíssima qualidade em nossa terrinha, que quase daria pra fazer o quadro Pra Ouvir uma vez por semana - pra não dizer diariamente. Hoje em dia é fácil ouvir música sem necessariamente ser refém daquela rádio FM meia boca que só toca aquele estilo musical de gosto duvidoso que você conhece bem. E se alguém do seu entorno lhe disser que a música nacional não é a mesma do passado, diga que você concorda e que ela efetivamente não é mais a mesma. Ela é mais múltipla, mais democrática, mais acessível, mais diversificada, mais variada, mais ampla, mais... brasileira, enfim.

É nesse sentido que aparecem por aqui os baianos do Maglore, motivo do Pra Ouvir de hoje - quadro que tem o objetivo de falar das bandas nacionais que gostamos DEMAIS. Há poucos meses atrás não conhecia o grupo formado por Teago Oliveira (voz e guitarras), Rodrigo Damati (contrabaixo) e Felipe Dieder (bateria). Provavelmente deve ter sido a partir de uma das belíssimas resenhas escritas pelo Cléber Facchi no site Miojo Indie, o motivo de eu ter ido "atrás" de ouvir o som dos caras. Uma audição. Duas, três. A quarta. Costumo dizer que a apreciação de um disco de uma forma mais completa só é possível lá pela quinta "ouvida". Ao invés de começar pelo disco mais recente, o III, lançado em meados desse ano, resolvi iniciar a minha incursão pelo Vamos Pra Rua, registro anterior.




Numa boa, nós gaúchos nos orgulhamos de sermos bairristas, de gostar das nossas coisas. De cantá-las, de vesti-las, de colocá-las em verso e prosa. Gostamos da nossa história, da nossa cultura, dos nossos times de futebol, do Mario Quintava e de Porto, né? Mas tenho certeza de que, com o povo baiano, não deve ser diferente - e talvez com muito mais motivos para orgulho, que me perdoem os da vertente mais extrema. O que o Maglore faz com a canção Avenida Sete, a terceira do maravilhoso Vamos Pra Rua, não é apenas mais uma musiquinha de um trio que tá surgindo na esteira do famoso nicho de mercado "viúvas dos Los Hermanos" - coisa que li por aí. A canção além de linda, assobiável, com refrão inesquecível e realizada com a técnica mais refinada possível da MPB é daquelas que te pega, te envolve, te abraça, te faz sentir parte. Sério, nunca fui pra Bahia, nunca andei na Avenida Sete, uma das mais importantes vias urbanas não apenas de Salvador, mas talvez do País. Essa canção multicolorida, singela, nostálgica me joga pra lá num instante. E me faz cantarolar junto com a mesma vibração da massa que canta em coro no final, o refrão "Avenida Sete me leve com carinho". Absolutamente linda demais!

Essa música foi aquela que na primeira audição já me saltou aos ouvidos, e que me fez prestar ainda mais atenção no restante de cada um dos dois registros a que tive acesso. Encontrei de tudo um pouco no limite entre o rock alternativo e a MPB. Feita sem firulas, com melodia, com boas letras, refrãos simpáticos. Sei que os baianos - que abriram recentemente o show do Muse em São Paulo, pra ver a moral da gurizada (e será que não foi mais legal que a banda de fundo?) - já andaram aqui pelos nossos pagos. Nos resta torcer para que eles voltem para mostrar  mais uma vez a sua música de qualidade. Aqui no Picanha, como é de praxe no Pra Ouvir, a gente fala dos dois principais (e, no caso, mais recentes) trabalhos.


Vamos Pra Rua (2013): verdadeira prova viva de que, atualmente, é possível fazer música acessível e descomplicada, sem por isso parecer um produto óbvio ou irritantemente previsível, o disco contém uma série de acertos pop, capazes de dialogar com artistas distintos como Caetano Veloso, Ivan Lins ou os já citados Los Hermanos. Com participações de Carlinhos Brown e Wado - o segundo na divertidíssima Nunca Mais Vou Trabalhar - o registro funciona com um recorte que, ainda que nas aparências possa parecer regionalizado, se torna universal pela multiplicidade de temas cotidianos, coloridos e modernos. E que são capazes de alcançar qualquer ouvinte com seus arranjos bem elaborados e lirismo sutil. Além da já citada e imperdível Avenida Sete, o álbum possui a canção título, que é outra que faz parte das melhores do grupo. Demais Baby!, Quero Agorá e Debaixo da Chuva constituem-se em outros belos momentos.


III (2015): se o Vamos Pra Rua já se constituía em um excelente exercício de música pop, o mais recente trabalho, que tem colhido elogios em todos os sites especializados, parece ampliar ainda mais esse espectro, consolidando o grupo como um dos mais criativos e interessantes da cena atual, ao lado de outros como Apanhador Só e Boogarins. Ainda mais homogêneo que o trabalho anterior, o disco se apropria de outras vertentes, caso da nova onda psicodélica - que tá na moda agora - para enriquecer ainda mais as melodias de suas canções. Nesse sentido, a eventual melancolia que permeia o registro, acaba absorvida pelos arranjos multicoloridos e ensolarados - sendo, nesse sentido, impossível ficar alheio ao potencial radiofônico da ótima Se Você Fosse Minha. Outra músicas como Mantra, Dança Diferente, Ai Ai e Café Com Pão certamente arrancarão do eventual novo ouvinte aquele sorriso de satisfação. Vida longa ao Maglore!

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