terça-feira, 27 de outubro de 2015

Novidades em DVD - Belas e Perseguidas

De: Anne Fletcher. Com Reese Witherspoon, Sofia Vergara, Michael Mosley e John Carrol Lynch. Comédia / Ação, EUA, 2015, 88 minutos.

No mesmo final de semana em que tanto se debateu o tema da redação do Enem - que, de imediato, foi taxado de feminista pelos conservadores de plantão - resolvi assistir a uma comédia leve, que servisse como uma mera distração para o final de tarde. Afinal de contas nem só de Truffaut e de Godard vive o cinéfilo médio e, sim, gosto de dar risada com alguma bobagem sem sentido, mas que tenha boas piadas. O meu erro foi o filme que escolhi: Belas e Perseguidas (Hot Pursuit). Essa pequena pérola do mau gosto não é apenas um péssimo produto do ponto de vista cômico - e sempre é um problema quando uma comédia não te arranca sequer uma meia risada durante toda a projeção - como ainda se constitui em uma obra absolutamente machista, hedonista e preconceituosa.

Aliás, pasmem vocês: o filme é dirigido por uma mulher, no caso a americana Anne Fletcher - que até possui um trabalho razoável, no caso o mediano Vestida Para Casar. O que torna ainda mais surpreendente o fato de todas as representantes do gênero, na película, serem verdadeiros clichês ambulantes - Vergara é a latina sexy pouco inteligente e Witherspoon é a policial desajeitada e masculinizada, que tenta provar o seu valor em um mundo em que os homens são mais seguros, mais espertos, têm os melhores empregos e ganham mais - ao menos de acordo com o visual antiquado e cafona de sua criadora. Nesse sentido, as mulheres no filme servem apenas para o deboche ou para o deleite visual (no caso da primeira), sendo o resultado algo absolutamente repugnante, ultrapassado e que remonta àquele humor oitentista e sem graça, em que chamar o personagem Mussum, dos Trapalhões, de toda a sorte de insultos racistas era algo "normal" - apenas pra citar um exemplo.



A propósito, a dificuldade que Hollywood tem para lidar com mulheres em ambientes tradicionalmente ocupados por homens, talvez seja reflexo do conservadorismo histórico relacionado ao tema - capaz de gerar medo em segmentos mais tradicionais da família, que talvez tenham dificuldade de aceitar o fato de que a mulher pode sim ganhar mais do que o homem. Pode dirigir melhor. Pode vestir a roupa que achar adequada. E pode ser empresária, jogadora de futebol e policial, sem por isso perder a identidade de gênero ou a feminilidade - e é inevitável que me venha a mente a personagem interpretada pela atriz Bryce Dallas Howard no mais recente Jurassic Park (outro fracasso, a meu ver), que, como mulher independente e de negócios, é retratada como uma pessoa fria, distante e workaholic - sim, por que na concepção de criadores que ainda geram produtos sem graça sobre as diferenças entre os gêneros, a mulher ou é a dona de casa subserviente ao marido - que passa o dia lavando a louça e passando roupa - ou é a mulher capacitada, mas individualista, insegura e dependente (dos homens).

Nesse momento vocês, os seis leitores do Picanha, devem estar se perguntando: mas por quê, afinal, tu foi ver esse filme? Fui atraído pelo trailer, que parecia contar uma história divertida sobre duas mulheres completamente diferentes e de personalidades totalmente opostas, que acabam se vendo em uma situação limite em que precisam se ajudar para superar alguma dificuldade. Gosto da Reese Witherspoon - uma das talentosas atrizes de sua geração. Da mesma forma também gosto do trabalho da Sofia Vergara, especialmente da histriônica Gloria, que interpreta na engraçadíssima série Modern Family. Só que as duas juntas não funcionaram. As situações são forçadas e até as piadas que tentam "equilibrar a balança", são deslocadas. Talvez vocês considerem exagero tudo o que foi dito até aqui sobre esse filme, afinal se trata apenas de uma comédia. Só que o problema é que eu não ri. Assim como não ri daqueles que debocharam do tema da redação do Enem.

Nota: 0,5

Um comentário:

  1. Havia muitas coisas para mudar essa fita chamada Belas e Perseguidas. Eu gosto do filme muito. Eu acho que se eles tinham coisas mudaram I orientar teria sido muito melhor.

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