Poucas coisas podem ser tão prazerosas para o fã de boa música do que "descobrir" uma banda que possa, imediatamente, tornar-se a sua mais nova " banda do coração". Aquela que ficará por vários dias (ou semanas) rodando no seu aparelho e que lhe fará pensar: como nunca ouvi isso antes? Muitas vezes é um artista que já está lá HÁ HORAS. Já existe há tempo. Três ou quatro discos lançados, quase dez anos de carreira e, você, por algum motivo ou outro nunca deu muita bola. Talvez não curtiu o nome adotado pelos integrantes. Talvez achou que o estilo não fosse condizente com o seu gosto particular. Vai saber. Tem tanta coisa pra se escutar, atualmente, também.. como saber se não será perda de tempo? Como dizem na internet, quem nunca?
Em relação ao TV On the Radio, essa baita banda americana - e que hoje é uma das minhas favoritas - foi exatamente o que me aconteceu. Quando assisti ao episódio intitulado Over, décimo, da segunda temporada de Breaking Bad, me chamou a atenção aquele petardo sonoro cheio de fúria vocal e de peso nos beats, que surge no exato momento em que o icônico Walter White, interpretado pelo ótimo Bryan Cranston, profere a famosa frase stay out of my territory para um traficante rival. Visceral e absolutamente alinhada ao temperamento intempestivo e imprevisível do professor de química, a canção não poderia ter sido melhor escolhida. Isso sem falar da letra! Ah, se tratava de DLZ do TV On the Radio, canção que faz parte do disco Dear Science, e que motiva mais uma edição do quadro Lado B Classe A.
Na verdade foi só um tempo depois que resolvi escutar o disco que continha DLZ. E que disco! Sabe aqueles álbuns que você escuta do início ao fim e que só dá vontade de ir escutando de novo, de novo e de novo e que só vai melhorando a cada audição? Esse é o caso. A gente sabe que hoje em dia as pessoas pensam não terem mais tempo para ouvir álbuns completos - eu, ao contrário, nem escuto os singles antes do lançamento oficial, já que gosto do produto em sua totalidade. Só que esse trabalho merece ser apreciado, degustado, saboreado na íntegra, É nele que o vocalista Tunde Adebimpe e seus asseclas - os músicos Kyp Malone, Gerard A. Smith, Jaleel Bunton e e David Andrew Sitek - atingem o máximo na mistura explosiva de free jazz, música eletrônica, trip hop e soul music, mas sem perder a verve roqueira. O que deixa o grupo bem próximo do limite entre a música mais experimental e aquela direcionada ao consumo das massas.
Não à toa, Dear Science possui uma série de hits que trafegam por diversos estilos e subgêneros. Dotado de uma voz insinuante, Adebimpe sabe ser sexy e ousado, amparado pelos mais variados loops, efeitos, programações, samples e batidas, mesmo quando fala de morte ou de relacionamentos que acabam - como nos casos das espetaculares Golden Age e já citada DLZ. O mesmo vale para os temas cotidianos, travestidos de uma aura mais complexa, que mantém um curioso clima de "melancolia festiva" - mesmo que seja aquela festa em que se dança sozinho, como no caso de Dancing Choose e Crying.
Ainda que seja difícil falar de canções isoladas nesse trabalho - absolutamente completo, qualquer que seja o ângulo - os novos ouvintes não podem deixar de escutar a trinca formada por Family Tree, Red Dress e Love Dog. Poucas vezes um conjunto de músicas trafegou tão bem entre a introspecção sufocante, a sensualidade quente e o clima vanguardista. Dear Science, lançado em 2008, foi o terceiro disco da banda, chegando a público logo após outro trabalho absolutamente espetacular e que também mereceria figurar no nosso Lado B Classe A: Return to Cookie Mountain (2006). Outros dois álbuns - Nine Types of Light (2011) e Seeds (2014) - viriam depois, repetindo algum sucesso. Ainda assim, o ponto máximo da carreira continua sendo o disquinho da capa azul que, não por acaso, recebeu nota 9,2 dos exigentes do Pitchfork. Um verdadeiro clássico da modernidade.
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