A trama de A Travessia (The Walk) é tão incrível que, não fosse baseada em fatos absolutamente reais, seria difícil conceber como verdadeira. Em 1974 o equilibrista Philippe Petit (Gordon-Levitt) atravessou as torres gêmeas do World Trade Center sobre uma corda de aço. O filme resgata essa história mostrando como Petit, com a ajuda de amigos e de uma espécie de mentor, o equilibrista veterano Papa Rudy (Kingsley), organizou toda a parafernália necessária para realizar a tarefa, viajou da França para os Estados Unidos, estudou todos os detalhes de ambas as edificações - à época as mais altas do mundo - driblou a segurança e, bom, deitou e rolou sobre a corda bamba.
Talvez nem todos saibam que já houve um filme realizado sobre esse assunto, no caso o documentário O Equilibrista (2008) do diretor James Marsh - que, diga-se, venceu o Oscar em sua categoria, nas premiações de 2009. Curioso é notar que, mesmo utilizando a mesma premissa, Zemeckis não faz muita questão de se distanciar do material já apresentado anteriormente. O documentário de Marsh apresenta Petit como um sujeito alegre, de bom caráter, que carrega uma leveza que quase o distancia do tipo de desafio que ele encara em seu ofício. Quase como se fosse um Gene Kelly circense - e as narrações em off no topo da Estátua da Liberdade contribuem para esse caráter de fábula e de plena exaltação do sujeito visto na tela - Petit torna tudo ao seu redor muito fácil, seja o seu aprendizado artístico ou mesmo tudo aquilo que envolveu a sua missão.
Nesse sentido, aquilo que poderia ser uma obra absolutamente tensa a partir de uma série de aspectos, se torna apenas um relatório em ordem cronológica de tudo aquilo que aconteceu previamente até o evento ocorrido no dia 07 de agosto de 1974 - e que na época correu o mundo, sendo tema de matérias em diversas publicações do globo. Não há qualquer arco dramático mais impactante - e todos que aparecem, como as brigas com a namorada, a única queda da corda bamba ou as complicações da execução da tarefa, são rapidamente suplantadas para que a trama tenha continuidade sem maiores percalços. Tudo muito regradinho, já diria o Almir do Pretinho Básico. Enfim, é todo um contexto que não deixa de ser curioso, já que o simples fato de atravessar as torres gêmeas na corda bamba já deveria ser algo absolutamente amedrontador. Mas Petit parece tão perfeito e seguro naquilo que faz que, até para quem tem medo de altura - que é o meu caso -, parece haver uma diluição da força do feito. Alguns dirão: mas foi assim que aconteceu! Eu direi: e a licença poética pelo bem da história?
Evidentemente que Zemeckis - diretor de tantos clássicos que marcaram as nossas vidas (De Volta Para o Futuro, Forrest Gump, Náufrago) - se empenha em entregar uma obra extremamente charmosa, com boa recriação de época e com plena atenção aos detalhes. E só o fato de ter iniciado o filme com Gordon-Levitt falando francês em sua terra natal, já é algo digno de pontos - sendo ainda muito inteligente o motivo encontrado para que, posteriormente, ele passasse a falar inglês. Nem é preciso dizer que os efeitos especiais são absolutamente espetaculares - e deve ser ainda melhor assistir em 3D, o que não foi o meu caso - sendo talvez o maior motivo para tornar o filme uma obra de ficção para além do registro documental de 2008. Prestando ainda uma singela e tocante homenagem as torres do World Trade Center, a obra funcionará de maneira totalmente satisfatória para aqueles cinéfilos que apreciam histórias redondinhas, sem muito espaço para arroubos estilísticos ou com certa complexidade em sua execução. Para alguns, o meu caso, ficará a sensação de que poderia ter sido melhor.
Nota: 6,5
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