quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Disco da Semana - Neon Indian (VEGA INTL. Night School)

Como é bacana perceber a evolução natural de algumas bandas, conforme vão sendo divulgados novos trabalhos. Existe uma certa "lenda urbana" na música, que dá conta do fato de muitos artistas terem dificuldade de superar a barreira do "espetacular primeiro disco". Mas consigo pensar em tantos exemplos recentes de músicos que foram aprimorando, qualificando e limpando o seu som no decorrer dos anos, que essa ideia parece se tornar ainda mais obsoleta. Peguemos o exemplo do Arctic Monkeys. Muito se falou sobre a trupe de Alex Turner e companhia quando do lançamento do agora já distante Whatever People Say I Am That's What I'm Not em 2006. Ainda assim, os rapazes de Sheffield, na Inglaterra, parecem ter atingido a sua plenitude musical apenas no mais recente, e quinto disco, AM, de 2013. Se é que chegaram ao ponto certo de maturação, já que talvez possam crescer (ainda) mais. Ou, minimamente, se manter na média.

O mesmo vale para grupos como Vampire Weekend, The National, Tame Impala, Spoon, que vão mantendo o padrão de qualidade, alcançando, aqui e ali, um resultado ainda superior do que aquele já encontrado anteriormente. Quando o Neon Indian surgiu em 2009, com o elogiadíssimo Psychic Chasms, o quinteto comandado pelo mexicano Alan Palomo fazia um som empoeirado, recheado de distorções, com letras econômicas e um clima synthpop ao mesmo tempo festivo e melancólico, que acertou em cheio o coração da crítica e dos fãs ávidos por bandas novas para se tornarem as suas queridinhas da vez. Mas, é como eu comentei. O som era excessivamente lo-fi, levemente turvo, com pouco espaço para emanações efetivamente pop - no sentido radiofônico - ainda que a sonoridade fosse pautada por sintetizadores enérgicos, com uma série de barulhinhos, bipes e outros elementos, capazes de equilibrar o som entre o tropical e o enevoado.



Era Extraña, o disco de 2011, já foi um passo a mais em direção ao que o grupo seria capaz de fazer apenas quatro anos depois, com o recém lançado VEGA INTL. Night School. Permanece o clima oitentista, de pista de dança euro-pop-sexy (sério, absolutamente irresistível) - com muitos loops, samples e efeitos sonoros diversos -, mas se mantém ao mesmo tempo a densidade e o clima retrô post-punk, que aproxima Palomo e companhia de outras bandas do estilo chillwave - como Toro Y Moi, Ducktails e Washed Out. Com uma diferença fundamental nesse contexto todo: o Neon Indian nunca foi tão pop. Tão sonoro. Tão direto. Tão ganchudo e cheio de refrãos coloridos e certeiros como agora. Se em Era Extraña, canções como Polish Girl, The Blindside Kiss e Hex Girlfriend já indicavam esse caminho, bom, agora chegamos nele. Na tal plenitude que a depuração do artista é capaz de fazer e que, lá no primeiro parágrafo dessa resenha eu defendia, naquelas linhas tortas.

A abertura com Hit Parade é apenas um preâmbulo para uma série de petardos musicais que virão a seguir. Canções como Annie, The Street Level, The Glitzy Hive, Dear Skorpio Magazine (a melhor!) News From the Sun e Slumlord, mostram um equilíbrio refinado entre um vocal absolutamente limpo e uma construção instrumental que parece ter passado em meio a um daqueles filtros de água feitos com areia, água e pedra em que as eventuais sujeiras que pudessem atrapalhar a audição - se é que atrapalhavam - ficaram pelo caminho. O som está cool, ainda que mantenha um certo ar kitsch charmoso, bem ao estilo da capa do disco, que pode ser vista acima. É como se entrássemos na danceteria mais hypada do planeta, mas o som de fundo fosse a trilha sonora de jogos como Street Fighter do Mega Drive, em um encontro com o Prince, com o DJ Bobo e com outros artistas dos anos 80, mas que tivessem sido repaginados. Vida longa a Palomo e companhia e que possam ir se aprimorando ainda mais. De momento eles lançaram  (apenas) um dos discos mais legais do ano.

Nota: 8,7


Nenhum comentário:

Postar um comentário