De: Danny e Michael Philippou. Com Sally Hawkins, Billy Barratt, Jonah Wren Phillips e Sora Wong. Terror / Drama, Austrália / EUA, 2025, 104 minutos.
[ATENÇÃO: TEXTO COM SPOILERS]
Da lenda egípcia de Osíris, passando por livros como Cemitério Maldito, de Stephen King, ou mesmo filmes como Hereditário (2018), de Ari Aster, não foram poucas as obras de arte que se ocuparam do tema dos mortos que "retornam" à vida. Ou de vivos que, diante de um contexto de luto, se empenharão em trazer de volta aqueles que tenham partido para uma melhor. Em muitos casos, essa acaba sendo uma boa desculpa para trabalhos que examinam traumas que emergem de cenários de perda, e quais os caminhos para a superação. No caso do recente Faça Ela Voltar (Bring Her Back) a coisa não parece assim tão profunda do ponto de vista psicológico - ainda que, aqui e ali, a obra dirigida pelos irmãos Danny e Michael Philippou espalhe alguns símbolos que nos ajudam a compreender as motivações de Laura (Sally Hawkins), a mãe enlutada que parece disposta a qualquer coisa pra trazer a falecida filha de volta à vida.
O filme inicia com uma experiência um tanto traumática para Andy (Billy Barratt) e sua meia-irmã, a jovem Piper (Sora Wong) - que tem um severo problema de visão que lhe permite ver apenas vultos e sombras -, que encontram o próprio pai morto, no chuveiro. Aparentemente ele tratava um câncer (ou não, vai saber). Após uma conversa com a assistente social, a dupla é enviada para morar com uma ex-conselheira da Instituição - seu nome é Laura (Sally Hawkins), uma excêntrica mãe também enlutada (ela perdeu a própria filha após um trágico afogamento, na piscina de casa) -, que também abriga um outro menino, no caso Oliver (o ótimo Jonah Wren Phillips). Oliver parece estranho e taciturno - seu olhar é fundo, meio denso, mas ao mesmo tempo disperso. O que combina com o cenário como um todo: uma casinha isolada no meio do nada, rodeada por uma floresta (um ethos inevitavelmente óbvio).
Como não poderia deixar de ser, tudo começa mais ou menos bem naquele ambiente. Andy estranha um pouco o carinho desmedido de Laura com Piper - talvez o fato de ela também ter perdido uma filha que, curiosamente, era cega. E tinha mais ou menos a mesma idade. A mesma altura, tudo. E, bom, não precisa ser nenhum adivinho para saber que, dali pra frente, coisas estranhas começarão a acontecer naquele ambiente. Especialmente por Laura, reiteradamente, colocar para rodar um vídeo que parece explicar uma espécie de ritual satânico, em que uma pessoa morta é trazida de volta à vida, com o uso de um hospedeiro (que meio que suga a alma do vivo, para depositá-la no morto, fazendo-o despertar). Sim, é tudo um tanto bizarro e a coisa vai escalando conforme a loucura de Laura (e de Oliver, que não compreendemos bem as motivações, inicialmente), avançam.
Em linhas gerais trata-se de uma obra tensa, sombria e que se utiliza, em alguma medida, do horror físico - que ficam evidenciadas nas impactantes transformações corporais de Oliver. Que sai de um menino que, de forma um tanto esquisita, resolve morder uma faca, até chegar em alguém que come mesas, objetos e a própria carne se for preciso. Tudo para saciar a fome de algo que parece estar parasitando, de forma oculta, seu pequeno corpo. Seu ser. Há no contexto uma ambiguidade sobre o que pode ter ocorrido, de fato, com a filha de Laura e isso nunca fica claro - sendo parte do mistério geral. Mas o caso é que trata-se de uma experiência que alterna momentos mais contemplativos, com outros um tanto movimentados e que traz o elementos sobrenatural como metáfora para a superação da dor.
Nota: 8,0