terça-feira, 25 de novembro de 2025

Novidades em Streaming - Depois da Caçada (After the Hunt)

De: Luca Guadagnino. Com Julia Roberts, Ayo Edebiri, Andrew Garfield, Chloë Sevigny e Michael Stuhlbarg. Drama / Suspense, EUA / Itália, 2025, 141 minutos.

"Se é verdade pra você, então é verdade". Mas será que é verdade mesmo? Acho que dá pra encarar o ousado Depois da Caçada (After the Hunt), de algumas formas distintas. Em um primeiro olhar, o novo projeto do diretor Luca Guadagnino - dos recentes Rivais (2024), que é ótimo, e Queer (2024), que é fraco -, parece um filme conservador que acena para uma Geração X atualmente cansada e meio saudosista de algum tipo de passado, em que certas liberdades meio exageradas, inclusive no que diz respeito à preconceitos e abusos de poder em geral, eram mais naturalizadas. Meio que entranhadas na sociedade. Por outro lado, e meio que conectando a coisa, a obra soa pretensiosamente moderna em um estilo meio Tár (2022) ao apontar certo cansaço da era do cancelamento, e que muitas vezes envolve millenials com pautas relevantes debaixo do braço, mas meio incapazes de encampar lutas efetivas, que deem resultado.

A galera mais apressada, diante desse cenário, tratou logo de dar uma semicancelada no diretor que, ao não ser necessariamente maniqueísta em sua abordagem, pode ter perdido uma ótima oportunidade de aprofundar o debate sobre o ainda existente cenário de misoginia e de racismo - especialmente no meio acadêmico. Sim, esse é um caso. Quantas mulheres negras diretoras de centros universitários ou doutoras vemos por aí? Sim, é legítimo que isso seja questionado e seria muito cômodo para Guadagnino jogar pra torcida, colocando Maggie (Ayo Edebiri) como a mocinha injustiçada (e abusada) por um professor mais velho, porque simplesmente a vida é assim. Mas aqui o diretor opta por adicionar algumas camadas, com nem tudo sendo assim tão oito ou oitenta. Maggie pode ter plagiado a sua tese e estaria chantageando o professor que ousou questioná-la a respeito? Talvez. Não sei. Acho que ninguém sabe.

 


E talvez esteja aí parte da magia de Depois da Caçada que, sim, como o título sugere, tenta tratar, à sua maneira, do que acontece após uma denúncia de abuso - infundada ou não. No caso do professor universitário Hank Gibson (Andrew Garfield), ele se torna uma espécie de pária entre seus pares. De sujeito respeitado, que participa de jantares sofisticados e de diálogos pedantes, se torna um desempregado do dia para a noite, após as (gravíssimas) denúncias de Maggie. Com tudo se tornando ainda mais avassalador em um período de #MeToo (a trama se passa em 2019). Maggie espera contar com o suporte, também emocional, de sua mentora intelectual Alma (Julia Roberts), uma respeitada professora de filosofia que está retornando à vida acadêmica após um tratamento de saúde - que, ainda lhe afeta. A denúncia da violência praticada por Hank, que garante ter havido consentimento no ato (sem nunca negá-lo), abala a relação de amizade dos dois. Com tudo piorando frente a um gritante conflito de interesses, já que ambos pleiteiam a mesma vaga de professor titular de Yale, no departamento de Humanas.

Em geral, o público parece ter torcido o nariz para essa trama em que não há certeza de nada e que muito do que se vê ali fica nas entrelinhas. Enquanto assistia à obra, me lembrei de outros filmes modernos, que abordam o tema, como os esplêndidos Dúvida (2008) e A Caça (2012) e, em ambos os casos, também não temos meio que certeza de nada. Aqui, muita coisa fica nas entrelinhas, ou mesmo nos diálogos de todos ali - Aristóteles era um xenófobo? Nietzsche era um nazista? Freud era misógino? Devemos cancelá-los retroativamente? Ou é possível estudá-los separando a obra do autor? Conceitos como o do panóptico de Foucault, e que serve bem à uma sociedade em permanente vigilância, ou da Ética das Virtudes, de Aristóteles se espalham pela narrativa, pretendendo dar algum estofo para as discussões (o que talvez até possa confundir, ao invés de ajudar). Há excesso de vitimização hoje em dia? De mimimi? As pessoas tendem a julgar e a condenar sem necessariamente haver provas mais contundentes? Ou as pautas seguem atualíssimas e devem ser mais discutidas do que nunca em tempos em que ainda nos deparamos com violências diversas contra pessoas mais vulneráveis? São muitas questões e eu, particularmente, tendo a concordar com essa última ideia. Mas não ignoro a experiência com um filme que expande as questões, e que coloca outros pontos como centrais no debate.

Nota: 8,0 

 

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