segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Pitaquinho Musical - Jaloo (Mau)

Não foram necessárias muitas audições para perceber que, com Mau, a cantora Jaloo parece estar muito mais à vontade. Não que ela não estivesse nos primeiros trabalhos - os elogiados #1 (2015) e ft. (pt. 1) (2019), que apareceram nas listas de melhores do Picanha daqueles anos -, mas aqui ela surge muito mais segura. E muito mais madura. Especialmente na hora de celebrar o seu lado feminino. Como um ser em mutação, ela abandonou completamente o visual de cabeça raspada que se via nos materiais de divulgação do disco anterior - que a colocava num lugar que emulava mais o masculino -, para surgir de cabelos longos, maquiada, com salto alto. "Tudo faz parte de um ciclo, de um momento e também do meu processo criativo. Vivo em constante movimento", comentou em entrevista ao Ig, salientando ainda que o feminino já havia emergido há tempos. "Eu só não tinha compartilhado com o público", pontuou.

O resultado são canções que, como de praxe, mesclam estilos variados de forma muito criativa - levando a estética tecnobrega, o forró e os ritmos latinos e periféricos até o limite, especialmente quando encontram a música eletrônica, o trap, o R&B e o dream pop. Nesse sentido, não é por acaso que alguns arranjos parecem saídos de algum filme de ficção científica gravado no região norte do País. É uma mistura coesa, rara, cheia de personalidade, que resulta em joias como Ocitocina, que talvez não fizesse feio em algum disco da Grimes fase Visions (2012). Já as letras, falam de relacionamento de forma direta, ousada, sem ignorar a conexão com assuntos mais profundos, políticos e de contextos sociais. A própria faixa título, por exemplo, versa sobre saúde mental, sobre vícios e repetições de forma bastante íntima e sem haver vergonha ou tabu. Um dos grandes registros do ano.

Nota: 8,5


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