quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Novidades em Streaming - Verdades Dolorosas (You Hurt My Feelings)

De: Nicole Holofcener. Com Julia Louis-Dreyfuss, Tobias Menzies, Michaela Watkins e Arian Moayed. Comédia / Drama, EUA, 2023, 93 minutos.

Existe uma cena central em Verdades Dolorosas (You Hurt My Feelings) - novo filme da diretora Nicole Holofcener (À Procura do Amor, 2013) - que, em alguma medida, fornece um resumo do tipo de dilema que move a narrativa. Nela, a escritora Beth (Julia Louis-Dreyfuss, a nossa eterna Elaine, de Seinfeld) resolve fazer uma surpresa ao marido e ao cunhado em meio a uma tarde de amenidades, em que ela está acompanhada da irmã Sarah (Michaela Watkins). Quando chegam em uma loja meio às escondidas, escutam, por acidente, uma conversa entre Don (Tobias Menzies) e Mark (Arian Moayed) - justamente o instante em que Don, o marido de Beth, revela a Mark, que é seu cunhado que, bom, talvez ele não tenha gostado tanto assim do novo livro da esposa que, na realidade é apenas um manuscrito que, mais adiante, talvez se torne o seu primeiro romance (anteriormente ela fez algum sucesso com uma autobiografia).

Para Beth, que tem no ofício da escrita algo fundamental em sua vida, não poderia haver maior afronta. Especialmente pelo fato de Don sempre elogiar o esforço literário de sua companheira de vida que, ao cabo, ainda está em construção. O caso é que essa perda de confiança deixa Beth arrasada. E cheia de incertezas em relação ao seu talento ou potencial narrativo. Com tudo piorando quando Beth escuta algumas duras verdades de uma editora com quem ela está em contato. Será ela uma farsa? E, mais do que isso, por que o marido não falou simplesmente a verdade durante suas conversas domésticas, a respeito do livro que estava em produção? Sim, parece um fiapo de história - um "filme sobre o nada", como brincaram alguns críticos estrangeiros, em uma alusão à antiga série estrelada por Julia. Mas ao mesmo tempo é uma obra que faz interessantes divagações sobre temas como incertezas profissionais, autossabotagem, crises de meia idade e até esgotamento e desencanto nos tempos modernos.

Por que, vamos combinar que, todos nós em algum momento já fomos invadidos por sentimentos de insegurança e de pressão no mercado de trabalho. E o que o filme mostra é como esses desafios cotidianos podem ser invasivos no que diz respeito à esfera íntima. Por que, até a revelação de Don, era possível ver como a relação entre ele e Beth era amistosa, amigável. Aliás, eles são tão parceiros na vida que até dividem o mesmo prato de comida ou o mesmo sorvete - pra estranhamento do filho Eliot (Owen Teague). Mas por quê diabos, então, Don teria mentido à Beth? Existe a possibilidade de suprimir a verdade, como forma de não magoar o outro? Especialmente se esse outro for alguém que você ama? Quais os limites éticos e morais pra isso? "Eu não queria desencorajá-la e, de qualquer forma, o que importa a minha opinião que é apenas isso... uma opinião", tenta argumentar Don, meio que em vão.

Na trama, a gente perceberá ainda que nem todos ali estão no seu melhor momento profissional. Don é um psiquiatra que se sente meio ultrapassado, quando seus pacientes começam a se queixar de ele não estar simplesmente resolvendo seus problemas. Já Sarah é uma decoradora de interiores que parece estar meio de saco cheio da burguesia emergente e suas afetações, ao não conseguir atender uma jovem rica em uma simples instalação de luminária. Para Mark, um ator que nunca alcançou o sucesso sendo lembrado apenas por um papel minúsculo em um filme em sua juventude, a situação é ainda pior: ele é demitido da companhia de teatro em que trabalha, em meio a encenação de uma nova peça. Mas mesmo com tantos dilemas da vida cotidiana, o que o filme parece nos querer fazer lembrar o tempo todo é que a existência é cheia de altos e baixos, conquistas e fracassos, de momentos de esperança e de gratidão que se alternam com outros de sofrimento e incertezas. Essa é a experiência de estar vivo. E uma mentirinha aqui e ali não apagará tudo de gigante que move o entorno. É uma mensagem poderosa, afinal.

Nota: 8,0


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