segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Novidades em Streaming - Crescendo Juntas (Are You There God? It's Me Margaret)

De: Kelly Fremon Craig. Com Abby Ryder Fortson, Rachel McAdams, Kathy Bates, Ben Safdie e Elle Graham. Comédia / Drama, EUA, 2023, 106 minutos.

Uma das produções mais carismáticas, cativantes e divertidas da temporada. Assim pode ser resumida a experiência com Crescendo Juntas (Are You There, God? It's Me Margaret), filme de Kelly Fremon Craig, que estreou na última semana na HBO Max. Aliás, essa é a prova viva de que não é preciso muita invencionice na hora de fazer obra sobre amadurecimento. Sobre as dores e incertezas que surgem na pré-adolescência. É tudo muito gracioso, singelo, realista - o que também envolve as interpretações de todo o elenco, especialmente da jovem Abby Ryder Fortson. É ela que é a Margaret, do título original. Que, sim, do alto de seus onze anos, evocará Deus de uma maneira meio torta, sempre que tiver alguma dúvida, medo ou anseio. Aliás, a sua primeira angústia real ocorre quando, ao retornar de um passeio de escola, seus pais Barbara (Rachel McAdams) e Herb (Ben Safdie) anunciam que se mudarão de Nova York para Nova Jersey. 

E quem já teve de se mudar na infância sabe o quão doloroso isso pode ser. Novos amigos, novos colegas de aula, nova vizinhança. Nova casa. Novo tudo, na real. Ainda assim, não serão necessários nem cinco minutos na nova morada para que a pequena (e afetada) Nancy (Elle Graham) a convide para um programa tão juvenil quanto divertido: aplacar o calor tomando um banho improvisado na água que sai do sistema de irrigação do jardim. Rapidamente ela se integrará a uma espécie de grupo de meninas - um Clube da Luluzinha - que é completado por outras duas meninas. A cada encontro os assuntos terão variações que envolvem mudanças corporais - Nancy se vangloria de já precisar de um sutiã, por exemplo -, passando pelo garoto padrão pelo qual todas são apaixonadas, até chegar ao primeiro beijo, primeira menstruação e outros eventuais dilemas típicos da idade.

Sim, quem lê essa resenha pode até se perguntar onde, exatamente, está a novidade. Comédias adolescentes do subgênero coming of age existem desde sempre e, em muitos casos, podem apenas se repetir. E, sinceramente, não sei se foi o fato de ficar com um sorriso enternecido quase o tempo todo, já que os personagens fogem um tanto do estereótipo esperado. Os pais de Margaret, por exemplo, não são xaropes, pouco amorosos, ou excessivamente conservadores do ponto de vista geracional. O que não impedirá que haja discussões e brigas que, ali adiante, se converterão em abraços calorosos e pedidos de desculpas (família, né, quem nunca?). Já a avó judia (interpretada pela ótima Kathy Bates) foge do que seria o padrão de uma religiosa fervorosa, sendo uma figura calorosa e amorosa, que permite à neta que as coisas ocorram à ela a seu tempo.

Aliás, a religião é um ponto central da narrativa. Mas não do ponto de vista panfletário. Os pais de Margaret desejam que ela decida por si qual crença seguir e há um embate familiar paralelo que, aqui e ali reaparece, e que envolve judeus e cristãos. Ainda assim a obra não está ali para dizer que isso ou aquilo é bom - e, vá lá, até o ateísmo pinta como uma eventual possibilidade. Com um desenho de produção primoroso - a recriação dos anos 70 (época em que o filme se passa) é tão perfeita, que não seria nenhuma injustiça uma lembrança no Oscar - e figurinos idem, o filme ainda aposta em uma fotografia levemente saturada e uma trilha cheia de grandes nomes setentistas que completam esse contexto de forma magistral. E há ainda os diálogos, espirituosos mas simples, cheios de comentários sociais engraçados e nunca exagerados. A gente vê por aí tantas comédias simplesmente forçando a barra na hora de tentarem (em vão) serem engraçadas. Essa aqui consegue naturalmente. Sem esforço algum. Sendo apenas nostálgica e agridoce. O público agradece.

Nota: 8,5


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