terça-feira, 13 de junho de 2023

Pitaquinho Musical - Christine and the Queens (Paranoïa, Angels, True Love)

Existe um problema meio inevitável nos discos "inchados" que é o fato de eles não terem como ser 100% bons o tempo todo. É um risco que certos artistas correm. E uma verdadeira ousadia em tempos de consumo rápido, de tik tok, de instantaneidade e de dispersão em meio a tanta oferta. Tudo isso não impediu o Christine and the Queens de lançar o seu mais ambicioso projeto. Dividido em três segmentos, Paranoïa, Angels, True Love - o quarto trabalho de estúdio de Héloïse Letissier - possui 20 músicas distribuídas em (quase) inacreditáveis 96 minutos. A empreitada pode parecer meio excessiva, mas quem se aventurar nela encontrará uma coleção de canções magnéticas, divinas, teatrais e operísticas que levam o pop experimental da artista a um limite que parece avançar para além dos sintetizadores transcendentais (e dançantes) testados anteriormente.


Aqui, parece haver um diálogo mais permanente com uma atmosfera mais etérea - algo como um encontro entre o trip hop, a new age e o jazz. É desafiador e nem sempre fácil. Enigmático e eventualmente ausente de refrão. Mas é completamente satisfatório em seus melhores momentos. Tears Can Be Soft, por exemplo, parece uma canção extraída de álbuns como Mezzanine (1998) do Massive Attack. Já A Day in the Water, com seu refrão pegajoso e letra contemplativa sobre a sensação de estar imerso sob a água nos momentos de dor (ele perdeu a mãe em 2019), vai na borda do acessível. E isso que estamos apenas no primeiro terço! Uma leve esranheza segue em cada curva dos dois seguintes atos - e mesmo a presença de Madonna em três canções e do rapper 070 Shake em outras duas, não reduz esse sentimento. Sofisticado mas caótico, artístico mas compreensível, esse é daquelas trabalhos que jamais imaginaríamos precisar em pleno 2023. E veio bem.

Nota: 8,5


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