terça-feira, 20 de junho de 2023

Novidades em Streaming - Till: A Busca por Justiça (Till)

De: Chinonye Chukwu. Com Danielle Deadwyler, Jalyn Hall, Haley Bennett e Sean Patrick Thomas. Drama, EUA, 2022, 131 minutos.

"Este é o cheiro do meu filho. Fedendo a ódio racial." (Mamie Till, educadora e ativista norte-americana)

Um dos crimes motivados por ódio racial mais brutalmente repugnantes da história dos Estados Unidos. Assim podemos chamar o assassinato à sangue frio de Emmett Till, um jovem de 14 anos nascido em Chicago, que foi linchado por homens (brancos, claro), que supostamente pretendiam vingar uma ofensa dirigida a uma certa Carolyn Bryant, moradora de Money, Mississipi. Os eventos que desencadeariam nesse ato atroz, bárbaro e invariavelmente estúpido são narrados no comovente Till: A Busca por Justiça (Till), obra dirigida por Chinonye Chukwu (de Clemência, 2019), que está disponível na plataforma Amazon Prime. Na trama retornamos ao ano de 1955, período em que os estados do Sul dos Estados Unidos ainda naturalizavam práticas segregacionistas que visavam a separar negros e brancos em ônibus, hospitais, escolas, parques e outros estabelecimentos públicos e privados. 

Sim, nos anos 50, há pouco mais de meio século, era considerado normal - e até legal -, manter brancos e negros separados em certos locais, com as leis antimiscigenação proibindo, inclusive, casamentos interraciais. Só que Emmett (Jalyn Hall) residia em Chicago, onde parecia haver uma abertura maior no que dizia respeito às questões raciais (a família havia se mudado do Mississipi durante a chamada Grande Migração, período em que centenas de milhares de norte-americanos se mudariam para os Estados do Norte, especialmente no começo do século passado). A própria mãe de Till, Mamie (Danielle Deadwyler) era a única empregada negra de uma refinaria da região, tendo se estabelecido no bairro afro-americano de Argo. O que para os padrões do preconceito do período quase possibilitava uma vida dentro de certa "normalidade". Só que Emmett queria passar férias de verão com seus primos em Money. E Mamie mal sabia que o abraço na estação de trem seria o último em seu filho.

 


Assistir a Till em um época de tanto ódio e de tanta intolerância - não há uma semana que seja que não somos impactados por alguma notícia que envolva crimes motivados por ódio racial -, torna tudo ainda mais revoltante. Durante a viagem ao Sul, Emmett é convidado a mudar de lugar ainda dentro do trem, o que já lhe gera certa estranheza. Os negros não ficam no mesmo vagão que os brancos, afinal. Só que mesmo assim ele não imaginava que uma simples cantada (um elogio seguido de um assobio, por assim dizer) dirigido a Carolyn (Haley Bennett) seria o estopim que resultaria em seu sequestro, seguido de linchamento e morte. O ódio pelo ódio, pura e simplesmente - que parece ser ampliado pela facilidade com que os americanos apontam armas uns para os outros (e isso que não estamos falando do Velho Oeste). Tudo se torna ainda mais asqueroso, mais nauseabundo, quando a dupla acusada do crime é simplesmente absolvida pelo júri (formado por aquele coletivo de homens brancos, velhos e conservadores). Crime que seria admitido pelos próprios assassinos mais tarde.

O sentimento de injustiça é tão revoltante, que Mamie resolve adotar uma medida drástica durante o velório do filho: mostrar o corpo do jovem  totalmente desfigurado, em caixão aberto. Uma atitude que não apenas confrontaria o patético sistema jurídico (e político) da época, como chamaria atenção de todo o País, com as manchetes circulando pelos principais jornais dos Estados Unidos. Em meio a questionamentos sobre o ativismo - que brotam do entorno - e a mentiras proferidas pela defesa durante o julgamento, Mamie encamparia essa luta até o limite do suportável, se convertendo em um verdadeiro símbolo da luta pelos direitos civis dos negros americanos (uma discussão que evoluiria por todos os anos 60). Ao cabo trata-se de uma obra histórica, conduzida com elegância (o desenho de produção e os figurinos são caprichados) e de grande relevância. Especialmente pelo fato de o debate sobre este tema, em pleno ano de 2023, seguir mais do que atual.

Nota: 8,5


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