segunda-feira, 12 de junho de 2023

Cine Baú - Levada da Breca (Bringing Up Baby)

De: Howard Hawks. Com Katharine Hepburn, Cary Grant, Adeline Ashbury, May Robson e Barry Fitzgerald. Comédia / Romance, EUA, 1938, 102 minutos.

Histriônica. Divertida. Caótica. Verborrágica. Talvez, em alguma medida, até meio a frente de seu tempo. Assim podemos considerar a saborosa comédia romântica Levada da Breca (Bringing Up Baby) de Howard Hawks. Afinal de contas, não são poucos os instantes que a gente para e pensa "uau, nem parece um filme dos anos 30". E principalmente por causa de Susan (Katharine Hepburn), uma protagonista determinada, forte e carismática - ainda que bastante atrapalhada -, que fará de tudo para conquistar o paleontólogo meio quadradão David (Cary Grant), um sujeito que está com casamento marcado mas que vê sua vida virar do avesso a partir do primeiro encontro com Susan. David trabalha em um museu de ciências naturais que está na expectativa de receber uma voluptuosa doação de US$ 1 milhão de um investidor interessado. E Susan? Bom, Susan, saberemos mais tarde, é uma das herdeiras da família ricaça que pretende fornecer o dinheiro para o museu.

Só que, a moda das comédias românticas dos anos 30 - o clássico Aconteceu Naquela Noite (1934), só pra ficar em um exemplo, vai na mesma levada -, tudo não passará de uma grande desculpa para um engenhoso roteiro onde figuras diametralmente opostas, se aproximarão em circunstâncias aleatórias. David conhece Susan justamente no dia em que vai jogar golfe com o advogado de seu futuro investidor. A ideia é dar uma paparicada no sujeito pra que a transação se desenrole sem muitos percalços. Só que Susan aparece. Primeiro batendo no carro de David. Depois praticamente o "sequestrando" de uma maneira que ele não consegue se livrar dela. E, a partir daí a anarquia toma conta! Ao cabo, Susan é o espírito livre que não parece se adequar a qualquer lógica. Em um dos primeiros segmentos da trama, Susan recebe de seu irmão um leopardo domesticado - e aqui dá pra ver de onde sai a ideia da inclusão desse tipo de animal em comédias como Se Beber Não Case (2009).



A presença inesperada do felino acaba sendo a deixa mais que perfeita para que Susan convide David, que ela acredita ser um zoólogo, até a sua propriedade em Connecticut. Detalhe: no dia casamento do sujeito. Claro que esse será o subterfúgio ideal pra manter o homem próximo a ela - aos poucos perceberemos que ela está apaixonada pelo rapaz. E aí para atrapalhá-lo na ideia de retornar pra cidade, ela fará e tudo um pouco: desde esconder as suas roupas durante o banho (a cena em que David usa uma camisola emprestada é hilária), passando por tombos e batidas de todos os tipos até chegar a uma inesperada prisão. E como se não bastasse todos os desencontros, David ainda perde no meio do caminho um osso de brontossauro - que seria uma peça fundamental na construção de um esqueleto no museu (ela havia sido enviada pelo correio após um trabalho exaustivo de cinco anos de escavação e é capturada por George, o irritante cachorro da protagonista).

Mal recebida pela crítica à época e totalmente esnobada no Oscar de 1939, a obra viveria um período de ostracismo até ser redescoberta nos anos 50. Anos depois, o crítico do New York Times Anthony Oliver Scott destacaria o "brilho e o vigor surpreendentes e que permaneceriam inalterados mais de sessenta e cinco anos depois". Já o historiador e crítico do cinema americano Leonard Maltin afirmaria que esta é "considerada a comédia maluca definitiva e um dos filmes mais rápidos e engraçados já feitos, com grandes atuações de todos". Todos esses predicados fariam com que a obra fosse mais tarde inclusa em diversas listas do American Film Institute (AFI), casos da relação de 100 Melhores Filmes Americanos de Todos os Tempos (na 97ª posição) e de uma honrosa 14ª colocação entre as comédias mais engraçadas da história. Livros como os 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer também incluem a produção que pavimentaria o caminho para que Hawks se tornasse um dos maiores diretores da história, como comprovariam o romance de aventura Uma Aventura na Martinica (1944), o faroeste Rio Vermelho (1948) e o musical Os Homens Preferem as Loiras (1953), entre outros. Pra quem procura uma comédia romântica menos óbvia no Dia dos Namorados, tá disponível na HBO Max.



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