De: Ashley Lyle e Bart Nickerson. Com Melanie Lynskey, Christina Ricci, Juliette Lewis e Tayny Cypress. Drama / Suspense, EUA, 2023, 524 minutos.
Incapazes de simplesmente esquecer tudo que ocorreu 25 anos atrás - e quais as formas encontradas para sobreviver (e quem já viu qualquer material de divulgação da série, sabe do que estou falando) - Shauna (Melanie Lynskey), Misty (Christina Ricci), Tai (Tawny Cypress) e Natalie (Juliette Lewis) tocam suas vidas na medida do possível até o momento em que recebem uma espécie de cartão postal com um símbolo sinistro do passado - o que fará com que elas acreditem estar sofrendo algum tipo de chantagem. Quem afinal teria interesse de revirar esses esqueletos há tanto tempo enterrados? Tai, por exemplo, é candidata ao Senado e teme pelo uso político do caso para prejudicá-la. Ao mesmo tempo, as coisas não parecem ir tão bem assim em casa, especialmente quando seu filho pequeno passa a se comportar de forma estranha (com direito a desenhos sinistros, agressões a colegas na escola e pinturas macabras na porta de casa).
Para as demais também não parece haver interesse em reviver os episódios de duas décadas e meia atrás. O casamento de Shauna com Jeff (Warren Cole) pode até estar meio caído, o mesmo valendo para a conturbada relação com a filha Callie (Sarah Desjardins), mas nada se compararia a uma possível investigação que pudesse levar aos eventos que levaram à morte de Jackie (Ella Purnell), a melhor amiga de Shauna, na época do acidente. Já Misty é a "doidinha de bairro" frequentadora do 4Chan e outros fóruns online (especialmente um de detetives amadores) que parece se deliciar em investigar a vida e os objetivos de seus algozes. Natalie, por sua vez, é aquilo que a gente sempre espera da Juliette Lewis: a drogadita que ela interpreta como ninguém. Entre idas e vindas no tempo descobriremos como rituais místicos e florestas que parecem assombradas e dispostas a se "comunicar" com o grupo, levarão às jovens a situações limite como a prática de canibalismo e de rituais satânicos como modus operandi de sobrevivência. Especialmente no doloroso inverno que enfrentarão. A floresta passará a escolher quem morre, lembrará uma delas após uma inesperada perseguição. Será isso mesmo? Ou os traumas somados a perda de qualquer noção de realidade farão com que elas se comportem dessa forma?
Ao cabo, a série nos deixa sempre na dúvida se o que estamos vendo tem algo, efetivamente, de sobrenatural, ou se tudo não passa de efeitos tardios das mentes perturbadas das garotas. Não são poucas às menções à medicamentos para ansiedade ou depressão e a necessidade de terapias alternativas como forma de controlar os pânicos gerais. Tudo sendo ampliado quando o grupo de mulheres descobre que Lottie (Simone Kessell), uma jovem esquizofrênica que se vendia como líder espiritual do grupo, na época do isolamento, hoje sobrevive como uma espécie de coach espiritual em uma comunidade hippie de bem-estar coletivo. Aliás, Lottie poderá ser a chave para desvendar outras questões - especialmente após o sequestro de Natalie (que pretendia dar cabo da própria vida). Sim, parece haver muita coisa acontecendo ao mesmo tempo - entre alucinações, fugas da realidade e incertezas em relação ao que vemos. Mas é tudo muito bem costurado, editado e fotografado (as premiações estão aí pra comprovar). Com a cereja do bolo sendo a excelente trilha sonora noventista - de Veruca Salt à Radiohead, passando por Elliot Smith e Tori Amos. De ficar grudado na poltrona. E que venha a terceira temporada!
Nota: 8,5
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