De: Julia Hart. Com Rachel Brosnahan, Bill Heck, Arinze Kane e Marsha Stephan Blake. Drama, EUA, 2020, 121 minutos.
Uma das piadas divertidas que tem corrido a internet é a seguinte: se você tem saco para assistir a um filme em que um bebê aparece dois terços do tempo de projeção CHORANDO haverá a possibilidade de você gostar de Sou Sua Mulher (I'm Your Woman), obra disponível na plataforma da Amazon. Tudo bem, há um certo exagero na história do bebê chorando, só que como a película não tem muita pressa em "acontecer", ela acaba sendo marcada por esse tipo de coisa. Na trama, nos deparamos com um outro lado dos filmes de bandidagem, que é o do que acontece com a família do criminoso quando este simplesmente desaparece sem muita explicação. No caso daqui acompanhamos a via crúcis de Jean (Rachel Brosnahan) e de seu filho (o bebê chorão de nome Harry), que salta de estrada em estrada, de hotel em hotel e de casa em casa, num curioso road movie enquanto tenta descobrir o que efetivamente teria acontecido com o seu marido mafioso Eddie (Bill Heck).
Levada pelo braço direito de Eddie, Cal (Arinze Kane), Jean consegue escapar, se estabelecendo em novas moradias enquanto tenta instituir algum mínimo de normalidade em sua rotina que, nada mais é do que esperar, esperar e esperar - assim como esperavam os soldados do livro O Deserto dos Tártaros de Dino Buzatti. A violência iminente pode estar na simpática vizinha que finge um comportamento amistoso ou mesmo num grupo de invasores que busca se vingar. São acontecimentos aleatórios em meio a bocejos infinitos que se misturam ao tempo de espera, aos choros do bebê (que, sinceramente, nem sei porque foi incluído na narrativa) e as escapadas espetaculares com a ajuda de Cal. Sobre o paradeiro de Eddie? Jean está no escuro. Ninguém sabe, ninguém viu. Não há resposta para essa pergunta. A ela só resta fugir, pra lá e pra cá. Sempre com o bebê a tiracolo.
Aliás, eu volto a dizer, eu não tenho nenhum problema com fluxos mais vagarosos, ou introspectivos, se estes tiverem algum propósito narrativo. Mas esse não parece ser o caso aqui. A lentidão é ocupada com sequências bizarríssimas como aquela em que surge, de forma inesperada, a família de Cal. Não bastasse o comportamento excêntrico de todos - vô, esposa, filho -, sem motivo algum, a trama ainda se ocupa de despejar diálogos constrangedores, como aquele em que Teri (Marsha Stephane Blake) explica a Jean o fato de ela ser a "melhor cozinheira do mundo" mesmo sem saber cozinhar NADA. "Você os alimenta? Se sim, você é a grande chef de cozinha desse planeta". Uma conversa que apenas preenche buraco, que não tem razão de existir e que só aborrece o espectador. O mesmo vale para o instante em que Jean descobre que Teri tinha sido casado com Eddie, momento em que ela resolve participar de uma sessão de treinamento de tiro - por que, né, ela tá muito furiosa com essa informação.
E como se não bastassem todos esses problemas que truncam a narrativa, o filme ainda tem sérios defeitos na parte técnica, sendo que poucas vezes vi figurinos e penteados tão descuidados como nesse filme (a obra se passa nos anos 70 e pouca coisa parece nos fazer lembrar que estamos naquele período). Levando-se a sério demais, a obra ainda relaxa na hora errada - fazendo piadocas à moda "tiozão do pavê" em instantes decisivos, como numa parte em que um dos sequestradores de Jean simplesmente atira na cara de um parceiro de crime porque este estava falando demais (um momento Quentin Tarantino wannabe que não tem muita lógica de acontecer). Com tanta lentidão, tanta falta de propósito e tanto choro aleatório de bebê, quem está aborrecido, triste e choroso no final da experiência é o espectador, que sente que as duas horas gastas pra apreciar o filme da diretora Julia Hart não voltam mais. Uma pena, porque Rachel Brosnahan é absolutamente talentosa - vide seu papel na ótima série The Marvelous Mrs. Maisel. Só que lá na série, ela faz rir. Aqui, a gente chora. Tal qual o bebê.
Nota: 3,5
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