segunda-feira, 25 de junho de 2018

Tesouros Cinéfilos - Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men)

De: Joel e Ethan Coen. Com Javier Barden, Josh Brolin, Tommy Lee Jones e Woody Harrelson. Suspense / Drama, EUA, 2007, 122 minutos.

Um roteiro intrincado, cheio de diálogos engenhosos e um dos vilões mais inesquecíveis do cinema recente. Esta foi a receita infalível para o vencedor do Oscar Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men), melhor filme dos Irmãos Coen desde Fargo (1996). Baseada no livro de Cormac McCarthy, a obra tem um certo desencanto que surge já nos primeiros minutos da projeção, quando uma narração em off - no caso, proferida pelo veterano xerife Tom Bell (Tommy Lee Jones) - cita as mudanças na sociedade e uma certa onda de intolerância (e de violência) que parece se ampliar nos tempos atuais. "Os crimes que vemos hoje são difíceis de compreender. Não é que eu tenho medo disso. [...] Mas eu não estou disposto a me arriscar à toa, sair por aí e encontrar alguma coisa que eu não compreendo", argumenta um cansado xerife, enquanto paisagens áridas surgem na tela - quase como uma metáfora para a dureza desses tempos.

A análise de Bell acaba sendo o preâmbulo perfeito para aquilo que veremos já em uma das próximas sequências, no caso um sujeito de cabelo estranho enforcando a sangue frio um agente penitenciário - numa das tantas grandes cenas da película. O sujeito em questão é Anton Chigurh (Javier Barden), assassino de aluguel com severos problemas psicológicos, que utiliza um compressor de ar para dar cabo de seus crimes. Chigurh é enviado para o local em que um crime envolvendo traficantes da região ocorreu, para pegar uma mala contendo dois milhões de dólares. Só que ele chega tarde ao local e é surpreendido pelo fato de o dinheiro já ter sido levado por um certo Llewelyn Moss (Josh Brolin), que realizava uma caçada próxima à cena do crime, o que fez com que ele a encontrasse por obra do acaso. Aliás, acasos e coincidências em geral não chegam a ser surpresa nas obras de Joen e Ethan Coen.



O que se inicia a partir daí é um verdadeiro jogo de "gato e rato", com Llewelyn sendo implacavelmente perseguido por Chigurh e com ambos sendo perseguidos pelo xerife Bell que, na realidade, tenta alertar Llewelyn para a enrascada em que está se metendo. No rastro de Chigurh, um verdadeiro banho de sangue envolvendo aqueles que cruzam o seu caminho - só se livrando de sua excêntrica arma aqueles que se salvam após participarem de um sádico jogo de "cara e coroa". Sim, é um filme altamente violento, mas que não deixa de ter um senso de humor singular - seja no sotaque dos texanos (a obra se passa no começo dos anos 80), seja no cabelo à moda playmobil da personagem de Barden ou até mesmo em sequências exóticas, como aquela que envolve um grupo de mariachis acordando Moss, após este atravessar a fronteira.

É uma obra-prima absolutamente saborosa sobre a "violência gratuita" dos tempos modernos e a incapacidade das autoridades - cansadas, exauridas - de lidar com elas. Não há vencedores e perdedores em nenhum lado. Llewelyn é ganancioso ao acreditar que pode mudar de vida ao encontrar uma mala cheia de dinheiro, perdida em um cenário desértico e desolador em meio a uma operação de tráfico que deu errado. Chigurh busca concluir a sua missão a todo o custo. E todos os que rodeiam ambos poderão ser, mais cedo ou mais tarde, vítimas de suas ações. Com grandes interpretações - não por acaso Barden recebeu o Oscar na categoria Melhor Ator, além dos Coen terem levado a estatueta por Direção e Roteiro - a película é, também, filmografia básica para quem gosta de um bom faroeste moderno.

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