quinta-feira, 7 de junho de 2018

Tesouros Cinéfilos - Adeus, Lênin! (Goodbye, Lênin!)

De: Wolfgang Becker. Com Daniel Brühl, Katrin Sab, Chulpan Khamatova e Florian Lukas. Comédia / Drama, Alemanha, 2003, 121 minutos.

Passados quase quinze anos de seu lançamento, o clássico moderno Adeus, Lênin! (Goodbye, Lênin!) costuma ser muito mais lembrado pelo contexto político - a trama se passa nos dias em que Berlim estava dividida entre os lados ocidental e oriental - do que como uma obra singela sobre a relação entre mãe e filho. A história retorna para o ano de 1989, durante a Guerra Fria, para nos apresentar à senhora Kerner (Katrin Sab). Diplomata e ativista política pelo Partido Comunista ela tem um ataque cardíaco e entra em coma, após presenciar o seu filho Alex (Daniel Brühl) em uma passeata a favor do regime capitalista. Nos meses em que fica desacordada, ocorre a queda do muro que separava a capital alemã, o que representa uma profunda mudança no lado oriental. Só que quando a senhora Kerner acorda do coma, o médico alerta Alexander para os riscos que emoções extremas possam representar para a matriarca. Mas como "esconder" dela os acontecimentos?

A trama é engenhosa e exige de Alex uma sofisticada logística para que ele possa recriar a Berlim Oriental no entorno da mãe, após a queda do muro - o que envolve desde os tipos de móveis e o papel de parede utilizado na casa da família, até a marca de pepino que ela irá consumir. Os programas de televisão, antes exibidos pela TV estatal também serão recriados com o apoio de Denis (Florian Lukas), que sonha em trabalhar atrás das câmeras. E será justamente a farsa alimentada com o apoio de todos da família - a matriarca não pode nem sonhar com o fato de que, após a queda do muro, a filha (Chulpan Khamatova) já começa a trabalhar uma uma filial do Burger King - que renderá uma série de momentos divertidos, como no caso da sequência em que assistimos a um grande banner da Coca Cola ser desenrolado em um prédio vizinho enquanto a senhora Kerner observa incrédula a ocorrência.



É um filme, no fim das contas, sobre o esforço de um filho em dar uma sobrevida para a já calejada mãe - e de seu esforço em manter as crenças da matriarca inabaladas, ainda que de maneira ficcional. Sem tomar partido em relação aquilo que seria melhor para o mundo - capitalismo ou socialismo - o diretor Wolfgang Becker torna o modelo exibido por Alex e seu amigo como uma espécie de ideal do modelo sonhado pelo lado Oriental, capaz de pensar na sociedade como um ente mais justo, igualitário e capaz de respeitar os modelos políticos diferentes (como no caso da fictícia sequência em que o lado oriental recebe refugiados vindos do outro lado da cidade). Já o capitalismo surge como uma novidade oxigenada, capaz de transformar os jovens alemães em uma massa de yuppies alienados, apenas preocupados com o trabalho e com o dinheiro (enquanto os idealistas convivem com o desemprego).

Mas o que se sobressai mesmo é a sequência final [SPOILER] em que a senhora Kerner, ao perceber todo o esforço do filho para manter vivo um mundo que já não mais existia (ao menos na Alemanha), olha para ele com ternura, sem jamais revelar o fato de que ela já tinha conhecimento da farsa. Nesse momento se vão embora as diferenças políticas, de pensamento, de visões de mundo - ainda que, é preciso que se diga, Alex pareça participar do protesto do começo do filme sem qualquer tipo de consciência política, tendo a intenção de apenas se aproximar de uma jovem, comendo uma maçã de maneira despretensiosa. Ao tornar um tema tão pesado como a queda do Muro de Berlim em uma obra leve, divertida, singela, tocante, Becker transforma Adeus, Lênin! em um dos filmes mais queridos pela geração que chegou a fase adulta no começo dos anos 2000.

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