terça-feira, 19 de junho de 2018

Cinemúsica - Vanilla Sky

Quem acompanha a carreira do diretor Cameron Crowe, sabe a importância que a música tem em seus projetos. E isso não é por acaso, já que o autor iniciou a carreira no jornalismo com apenas 15 anos de idade, escrevendo artigos para publicações como a Rolling Stone - mais tarde ele integraria a equipe de redatores do periódico, assinando matérias sobre a vida e a carreira de artistas diversos, como, Neil Young, Bob Dylan, Eric Clapton e David Bowie. E, de alguma forma, essa "iniciação" no universo musical pôde ser conferida no autobiográfico Quase Famosos (2000), obra, vejam só, sobre um jovem de apenas 15 anos, aspirante a repórter musical, que é incumbido de acompanhar uma banda (no caso a fictícia Stillwater), em turnê. Bom, dá pra perceber que o americano manja de música - mais ou menos como aquele seu amigo que sabe de todas as bandas mais hypadas no momento.

Bom, mas o nosso assunto não é o Quase Famosos - ainda que a obra também mereça figurar no nosso Cinemúsica. Vanilla Sky é o filme seguinte de Crowe. Protagonizado por Tom Cruise, é inspirado na película espanhola Preso na Escuridão (Abre los Ojos), concebida por Alejandro Amenábar, em 1997. A trama se passa em Nova York e é narrada por David Aames (personagem de Cruise) um bon vivant que herdou do pai uma grande editora de revistas. Assim, a vida boa cheia de festas luxuosas, mulheres lindas, figurinos exuberantes e viagens internacionais, faz parte da rotina. Só que uma série de flashbacks mostram Aames na atualidade, sendo investigado por um crime e com o rosto coberto por uma máscara de borracha - sendo que não demora para que percebamos que o recurso serve para encobrir um rosto desfigurado, por conta de um acidente cometido por Julie (Cameron Diaz), em um acesso de loucura motivado por ciúmes.



Bom, esse é apenas um resumo e quem já assistiu o filme lembrará que as idas e vindas no roteiro servirão para apresentar os fatos como ocorreram (e também qual a misteriosa explicação para as aparições de Aames com o rosto reconstruído, tempos depois do acidente). Na verdade o filme costuma dividir opiniões - a crítica não simpatizou muito com o clima excessivamente hollywoodiano, na época do lançamento. Já o público, movido pelo elenco cheio de estrelas - além de Cruise e Diaz, Penélope Cruz, Kurt Russel, Jason Lee, e Tilda Swinton dão as caras-, parece ter tolerado melhor a mirabolante trama. Já quem gosta de boa música, encontrará aqui e ali sequências embaladas por nomes diversos, como, Radiohead, Sigur Rós, REM, Paul McCartney - que fez canção exclusiva pra obra -, Chamical Brothers, Jeff Buckley e Bob Dylan (aliás, a capa do disco Freewheelin' aparece em uma das mais tocantes sequências da película, já no terço final). Um verdadeiro prato cheio!

Em meio a sequências como a de abertura, ao som de Everything In It's Right Place do Radiohead (que com sua excêntrica letra funciona como uma espécie de preâmbulo para uma vida como a do protagonista, que mistura realidade e ficção) ou aquela pós acidente ao som de Sweetness Follows, do REM, há outras, como a absurdamente dramática (e engraçada) cena em que um Cruise já acidentado, canta One Of Us, da Joan Osbourne, em uma maca. É nesse clima meio nonsense, com uma trilha sonora cosmopolita e urbana - que equilibra canções pop, rock e eletrônicas na medida certa - que Crowe transforma o seu filme em um verdadeiro almanaque do cancioneiro de todos os tempos. No fim das contas, falar de Vanilla Sky, na realidade, é lembrar de um filme que não era tão bom quanto a sua trilha sonora, que permanece sendo o seu grande mérito.

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