segunda-feira, 30 de maio de 2016

Novidades em DVD - Joy: O Nome do Sucesso (Joy)

De: David O. Russel. Com Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Bradley Cooper, Virginia Madsen e Isabela Rossellini. Biografia / Drama / Comédia. EUA, 2015, 126 minutos.

Com uma filmografia (propositalmente) exagerada e caricata, o diretor David O. Russel parece ter se especializado, com o passar dos anos, em apresentar ao público toda a ilusão delirante do american way of life, com seus personagens e histórias que mais pareciam saídos de alguma telessérie ou filme para a TV vindos diretamente dos anos 60 ou 70, dado o anacronismo de cada obra. Foi assim em alguns filmes apenas razoáveis, como Trapaça (2013) e em outros tantos bons, como O Vencedor (2010) e O Lado Bom da Vida (2012), ocasiões em que, mais do que obras com histórias bem costuradas ou amarradas éramos apresentados a uma verdadeira coleção de personagens interessantes - ainda que em em muitos casos, estereotipados - interpretados por gente talentosa como Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Christian Bale, Mark Wahlberg e Robert De Niro.

Nesse sentido, é justamente a capacidade de compor em seus roteiros personagens multidimensionais e dotados de um mínimo de complexidade o fato que possibilitou indicações ao Oscar - e até algumas conquistas da estatueta mais cobiçada - a alguns dos atores com as quais já trabalhou. Não à toa, O. Russel é tido como um diretor com grande capacidade de condução de atores, ainda que seus filmes possuam pouco valor no que diz respeito aos elementos estéticos ou a seus arcos dramáticos - nunca ousados e quase sempre previsíveis. Pois o tom novelesco e farsesco, ou mesmo de paródia metalinguística, parece atingir seu auge com o recém chegado em DVD Joy: O Nome do Sucesso (Joy), que, já em sua primeira cena, brinca com o modelo ao apresentar uma sequência, parte de uma novela ficcional, que servirá para ditar o tom da narrativa que encontraremos pela frente. Acreditar ou não naquilo que o filme tenta vender dependerá de cada um.



Na trama, baseada em fatos reais, Jennifer Lawrence vive a Joy do título. Como em qualquer caso de história de superação, Joy é uma sonhadora que luta, e muito, para conseguir colocar em prática os planos e ideias que lhe possibilitem uma vida mais digna e feliz - e com mais dinheiro, como manda o figurino das histórias americanas e invariavelmente capitalistas. Como desgraça pouca é bobagem, Joy tem uma família absolutamente disfuncional, sendo esta, em muitos casos, a grande responsável por fazer com que a jovem não "saia do chão". Não bastasse a mãe alienada do mundo e interessada apenas em suas farsescas novelas (Madsen), Joy ainda conta com um pai ausente que retorna para casa após um segundo casamento mal sucedido (De Niro), um ex-marido que mora no porão da casa (Rámirez) e uma irmã ciumenta e competitiva (Elisabeth Röhm). A relação com a avó (Diane Ladd), com uma amiga dedicada (Dascha Polanco) e com os dois filhos parece dar a sustentação para que a garota não enlouqueça.

A situação muda de figura quando Joy - criativa desde a infância, como mostram alguns flashbacks - inventa um utensílio doméstico que poderá ajudar as "donas de casa" mundo afora. Sim, se trata de uma espécie de esfregão muito mais prático do que os comuns, por não necessitar do uso da mãos para torcê-lo e por ser muito mais prático de ser lavado. Você certamente já viu o produto nos polishops da vida. E se você estranhou o uso do termo "dona de casa" nessa resenha, saiba que este é apenas um dos problemas do filme. Sem esconder um certo machismo, a película alça a protagonista à condição de estrela de televisão justamente após uma sequência em que um homem, contratado do canal em que o produto será comercializado, se mostra incapaz de usar o novo objeto. Afinal de contas, vassoura é algo feito para a mulher, né? Assim como limpar a casa? Ao menos de acordo com as ideias ultrapassadas do diretor. E mesmo que a trama se passe em outra época, essa sequência poderia ter sido facilmente solucionada sem a inclusão de um senhor branco e de meia idade "apanhando" do objeto.


Pecando também ao apresentar a família da protagonista como um emaranhado de pessoas ao mesmo tempo distantes e desinteressadas - o que torna tudo tão falso quanto as novelas vistas - a obra ainda faz uma mistura estranha de romance, comédia e até mesmo (pasme) drama de tribunal com pitadas de faroeste no seu terço final. Os diálogos, pouco inspirados, também não contribuem para que a verossimilhança seja preservada, soando algumas vezes absurdos e nada realistas - e se em Trapaça o exagero parecia proposital em tudo, figurinos, cabelos, cenografia, interpretações, aqui parece haver um certo tom solene na evolução da protagonista que nada tem a ver com a forma como percebemos tudo aquilo a que estamos assistindo. É como se fosse uma espécie de fantasia em que o criador não estava muito inspirado. O que, é preciso que se diga, é uma pena, já que a instigante história tinha tudo pra render um filme melhor.

Nota: 4,5

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