De: Fleur Fortuné. Com Elizabeth Olsen, Himesh Patel, Alicia Vikander e Minnie Driver. Ficção Científica / Drama, Reino Unido / Alemanha, 2024, 114 minutos.
Em um futuro próximo, devido ao colapso ambiental e à escassez de recursos, uma nova política governamental impõe critérios rigorosos àqueles que desejam ser pais. Ao cabo, essa é uma decisão que não cabe somente ao casal, afinal, os interessados em gerar uma criança precisam passar por uma espécie de prova - uma avaliação - de uma semana, o que deverá trazer a resposta definitiva sobre a capacidade ou não em desempenhar o papel de serem responsáveis por um filho. Essa é a curiosa premissa e o ponto de partida do provocativo A Avaliação (The Assessment), filme que trata de temas, como, mudanças climáticas, avanços tecnológicos, inteligência artificial, parentalidade em um contexto distópico e, em alguma medida, elitismo cultural, e que marca a estreia da diretora francesa Fleur Fortuné (conhecida no meio musical pela direção de videoclipes, como os de Midnight City, do M83, e Gunshot da Lykke Li).
Aliás, o clima meio onírico, de sonho futurista e decadente que, em alguns casos, aparece nos clipes, a realizadora carrega para a produção, que é inundada por um sentimento geral de melancolia e de desalento - que é reforçado pelo cenário arenoso, quase sempre nublado ou acinzentado e com uma ausência de vida gritante (fora o mar azul escuro e a praia pedregosa, não há verde, não há mato, não há rios, pássaros ou mesmo insetos). À exceção está na estufa mantida por Mia (Elizabeth Olsen), uma botânica que cultiva uma série de vegetais orgânicos em um local climaticamente ajustado, que fica junto à isolada e moderníssima casa que ela divide com o marido Aaryan (Hamish Patel), uma espécie de engenheiro de tecnologia empenhado em recriar animais de estimação, em um contexto em que os pets foram sacrificados em nome da preservação de recursos para os seres humanos.
Ainda assim, por mais que Mia e Aaryan sejam o casal bem sucedido, jovem, bonito e tesudo que teria tudo para ter um filho, as coisas não serão tão simples assim. Nesse novo mundo em que eles habitam, a indústria farmacêutica esticou ao máximo a expectativa de vida, com a presença de um novo e milagroso medicamento (conhecido apenas como sexocidina). No mesmo cenário, a geração de bebês não é permitida de modo natural, sendo obrigatório o uso de úteros artificiais - e é aí que entra em cena a avaliadora Virginia (Alicia Vikander), que chega à casa dos protagonistas, enviada pelo governo, com a missão de verificar seu potencial como pais. Enigmática e fria, Virginia se instalará no local por uma semana, mudando de comportamento a cada situação e levando até o limite a capacidade de tolerância da dupla, o que poderá ser decisivo no conjunto final.
Virginia de início parece apenas uma figura taciturna, que está ali para executar seu ofício. Mas quando ela passa a agir de forma infantilizada - supostamente como parte do exame -, as coisas desandam. As birras, intimidações e questionamentos que poderiam soar como o melhor anticoncepcional já produzido, são parte da adoção da persona de uma criança. Fazendo com que Mia e Aaryan se questionem não apenas acerca de sua capacidade para lidar com aquilo tudo, mas até mesmo sobre a realidade bizarra que eles enfrentarão naqueles dias - com explosões emocionais e tensões evidenciando inseguranças e conflitos internos não resolvidos (inclusive sobre traumas do passado, com os temas freudianos sempre circundando a borda). Por fim, vale dizer que essa é uma experiência intensa e estimulante, que se vale das grandes interpretações do trio central como forma de fortalecer as suas ideias. Ainda que essas ideias, como de praxe em projetos do tipo, sejam estoicas e de um pessimismo atroz.
Nota: 7,5
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