sexta-feira, 20 de junho de 2025

Pitaquinho Musical - Kali Uchis - Sincerely,

Sinceramente, Kali Uchis, te amamos. Acho que não há nada mais pra falar quando uma artista produz tanto e lança uma coleção de discos tão sequencialmente majestosos. Quando surgiu pro mundo em 2018, com Isolation, a artista foi elogiada pela crítica, abraçada pelo público e, de lá para cá, a coisa só melhorou. Lançado um ano e meio depois do ótimo Orquídeas - nosso 12º colocado na relação de grandes discos de 2024 -, Sincerely, se apresenta como uma experiência evocativa, entre o cósmico, o onírico e o primaveril, numa mistura cheia de personalidade em que o R&B nunca parece óbvio, o soul é permanentemente sofisticado, o pop oitentista é refrescante e as tintas latinas se espalham pelas franjas com economia. Tudo executado com uma produção soberba, limpa, que se aproveita do vocal celestial de Uchis, para levar suas canções a um patamar mais alto, como se cantadas de cima, gerando uma sensação de conforto poucas vezes experimentada.

 


Uchis foi mãe recentemente. E perdeu a sua própria mãe no começo desse ano, pouco depois da divulgação do novo trabalho - num desses paradoxos que parecem ideias para a consolidação da arte. Nesse sentido, os temas de memória, dores, amores e incertezas existenciais se convertem na matéria-prima perfeita para um álbum que soa meditativo, e que vai crescendo a cada nova audição. Com uma série de músicas candidatas e se tornarem hits imediatos - casos da belíssima Heaven is Home..., da sinuosa Territorial, da vintage All I Can Say ou da maternal ILYSMIH, a compositora torna o registro uma jornada de cura pessoal, mas também o caminho para que a paz possa ser encontrada. Há felicidade ali adiante, afinal. A Pitchfork definiu o álbum como uma "fantasmagoria de prazer". Talvez esse seja um bom resumo. Uma coisa meio espectral. E profundamente saborosa, quente e confiante.

Nota: 9,0 

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