quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Novidades em Streaming - Um Homem Diferente (A Different Man)

De: Aaron Schimberg. Com Sebastian Stan, Renate Reinsve e Adam Pearson. Drama / Comédia, EUA, 2024, 112 minutos.

Precisamos falar sobre a solidão das pessoas bonitas e bem sucedidas. Se interpretado como uma grande alegoria sobre a importância da autoaceitação e da busca por evitar fingir ser aquilo que não somos, Um Homem Diferente (A Different Man) pode ser uma obra com algo a mais a dizer. "A máscara pode cair a qualquer momento", diz o chavão, revelando a nossa verdadeira natureza - e, em muitos casos, decepcionando aqueles que nos rodeiam. Se encarado como um drama sobre um sujeito que supera uma severa deformidade facial - resultado de uma neurofibromatose -, mas que tem dificuldade de se ajustar a essa nova "identidade", o projeto do diretor Aaron Schimberg talvez seja apenas razoável. E até meio forçado, em última análise. O que não impede de considerarmos a produção inovadora, instigante, e que parte de uma premissa pouco convencional e que pode gerar algum desconforto.

Na trama acompanhamos Edward Lemuel (Sebastian Stan), um ator amador de rosto desfigurado e que, naturalmente, passa por dificuldades no que diz respeito ao convívio social - como fica claro, logo no começo, em uma sequência dentro do metrô em que ele simplesmente esconde o rosto, para não ser percebido por um bêbado chato que está incomodando a todos. Só que mesmo sendo introspectivo, ele consegue vencer a barreira da timidez, para uma aproximação meio desajeitada de sua vizinha, a carismática e vivaz Ingrid Vold (Renate Reinsve, vista no excelente A Pior Pessoa do Mundo, 2021), uma escritora iniciante que parece genuinamente interessada em Edward, a despeito do susto inicial. Conforme a amizade avança, Edward aceita participar de um tratamento experimental à moda A Substância (2024), com a promessa de cura para a sua condição. E, em resumo, a coisa funciona. O que faz com que o protagonista simplesmente mate, metaforicamente, Edward, entrando em seu lugar um certo Guy Moratz, o dono do rosto novo.


 

Ingrid fica sabendo da morte e, após um salto temporal, Guy/Edward já se converteu em um bem sucedido agente imobiliário, com uma boa casa, respeitado pelos seus pares. Só que não demorará para que constatemos que, na essência, Guy não mudou nada. Afinal, muito mais complicado do que simplesmente mudar a aparência é trocar de personalidade. A gente pode até adquirir um ou outro traço distinto na vida adulta, mas um sujeito introspectivo não se torna expansivo da noite pro dia. Uma pessoa quieta e taciturna não se torna vibrante ou entusiasmada num piscar de olhos. Guy agora está bonito, de acordo com o padrão. Mas permanece desencaixado, incapaz de ter um relacionamento amoroso sólido ou amigos que existam para além do ambiente de trabalho. É uma existência vazia, oca, ordinária. E que traz uma relevante discussão, em seu âmago, sobre autoestima. 

E como se a desgraça não fosse pouca, tudo piora quando Guy reencontra, meio que sem querer querendo, Ingrid, que está produzindo uma peça off Broadway justamente sobre um sujeito com neurofibromatose, que tenta se aproximar de sua vizinha. Sombria, mas bem humorada, essa é uma obra que também joga alguma luz sobre a discussão que envolve a escalação de certos atores que atendam certos requisitos físicos - e de como isso impacta a indústria. Sebastian Stan, que atua muito bem por sinal, usa uma máscara no começo do filme - o que, inclusive, poderá resultar em uma indicação ao Oscar na categoria Maquiagem e Penteado -, diferentemente de Adam Pearson que, com seu irresistível charme, empresta seu rosto real para a produção. "Meu velho amigo, você não mudou nada!", comenta Oswald (Pearson) quase na conclusão. Esse é o grande problema. Ou dilema. Quando a essência é uma e a estampa é outra. E aí uma pode burlar os limites da outra.

Nota: 7,5


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