De: Jesse Eisenberg. Com Kieran Culkin, Jesse Eisenberg, Will Sharpe e Jennifer Grey. Drama / Comédia, EUA / Polônia, 2024, 90 minutos.
Acho que A Verdadeira Dor (A Real Pain) poderia entrar em uma espécie de subcategoria de "filmes click bait de festivais". Aquele tipo de produção com homens brancos e héteros sofredores de meia idade, traumatizados não se sabe bem exatamente por quê - até porque, em muitos casos, a obra não se ocupa em explicar isso direito -, e que costuma funcionar direitinho em Sundance ou em outras premiações do circuito alternativo (e que, se a temporada for efetivamente fraca como essa que estamos vivenciando, pode se estender até o Oscar). E nesse filme dirigido por Jesse Eisenberg, que também atua, tem um bait a mais: o de colocar Kieran Culkin - o eterno Roman Roy, de Succession -, como uma figura atormentada, supostamente complexa e que pode ser mal educada num instante, para no momento seguinte ser carismática e cativante.
Sim, tudo aqui parece que meio que feito sob medida pra capturar uma parcela do público com pendor pro progressismo de sofá - há um pano de fundo sobre as dores do holocausto e que parece se cruzar de forma meio estranha (ou torta) com as mazelas da modernidade -, mas que, ao cabo, resulta naquele sentimento de enfado. Como crítico amador, e estudioso autodidata do cinema e da produção cultural como um todo, já compreendi que a arte não precisa ter necessariamente uma função. Ela pode entreter, ou nos fazer refletir. Mas é meio que impossível não pensar em A Verdadeira Dor como um filme tão fugaz que, assim que os créditos passam, já esquecemos dele. Há um grupo de personagens que tenta ser interessante mas não consegue - não nos conectamos com ninguém -, ao mesmo tempo em que a dupla de protagonistas se apresenta como de personalidade diametralmente oposta, como se isso fosse inovador em pleno 2025.
Bom, na trama desse elogiadíssimo produto - a média da nota no Metacritic é 89% (então, não deixem de assistir por NADA) -, David (Eisenberg) e Benji (Culkin) são dois primos não muito compatíveis, que resolvem fazer uma viagem - aquelas vendidas em pacotes turísticos - à Polônia, pra homenagear a recém falecida avó, uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra. E, enfim, boa parte da obra consiste em apontar as gritantes diferenças de comportamento entre os dois sujeitos - e de que formas isso faz com que eles se amem e odeiem ao mesmo tempo. Sim, quem nunca, e ok, esse pode ser um mérito que sempre valorizo: o de nos apresentar a figuras dotadas de alguma complexidade, afinal, não somos uma mera caricatura maniqueísta, que age sempre da mesma maneira. Mas o caso é que tudo soa meio forçado.
Na primeira sequência, David já se apresenta como aquele cara supostamente metódico, preocupado com horários e agendas prévias, e que é um homem de família, um cidadão de bem com esposa, filhos, um bom emprego e tudo conforme o script (e eu confesso que me incomodam um pouco as obras de arte que acenam para a normalidade como algo estranho, excêntrico ou a ser evitado). Já Benji é a figura que, mesmo com mais de 40 anos de idade no lombo, ainda mora com a mãe, se ocupa de fumar maconha, e que é charmoso e expansivo com estranhos, ainda que pareça julgar, em seu cerne, as suas vidinhas enfadonhas. Como alguém que convive com algum transtorno de personalidade, ele pode estar em estado meditativo ou pacífico agora, para, no minuto seguinte explodir em fúria, em gritos e, enfim... os outros que lutem. Por quê ele teria tentado se matar, também, meses antes, é algo que fica no ar. Resumo da coisa toda, galera: façam terapia. Tomem os medicamentos. Pratiquem exercícios. Cuidem da saúde mental e física. E evitem ser chatos. Falo isso com conhecimento de causa. Porque a terapia não estando em dia talvez só te torne meio insuportável. Como esse filme, nas suas entranhas, é.
Nota: 4,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário