terça-feira, 28 de junho de 2022

Pitaquinho Musical - Johnny Hooker (ØRGIA)

Se divertir, mas sem perder a capacidade de indignação. Dançar e refletir. Sentir ternura, amar, mas sem abandonar as questões que incomodam. É dessa dualidade que emerge um dos grandes discos nacionais do ano - no caso o maravilhoso ØRGIA, do Johnny Hooker. Em entrevista concedida ao UOL ainda em 2021, o artista afirmou que o Brasil precisava voltar a beijar na boca. "Voltar a ser feliz, ter desejo, se apaixonar, sofrer por amor. Voltar a viver, é isso. A minha música traz isso", resumiu. Pois essa espécie de expiação pedida pelo cantor, parece combinar ainda mais com esse 2022 tão duro, tão difícil, tão áspero - o que talvez explique a facilidade com que abrimos um largo sorriso diante de pequenas joias, como, Amante de Aluguel, Larga Esse Boy, Nos Braços de Um Estranho e Nhac!


Misturando estilo variados que vão do tecnobrega, passando pelo samba, até chegar ao pop alternativo, à música eletrônica e até ao sertanejo universitário, Hooker converte este terceiro registro em uma celebração à vida, que se apoia na tríade noite, sexo e política. Exemplo central desse expediente está na sinuosa CUBA, que joga o ouvinte para uma espécie de reggaetown improvisado e lânguido, enquanto o refrão pegajoso faz um convite que funciona tanto como como carta de amor, quanto como resposta ao ávido bolsominion que deseja enviar qualquer um que não apoie o seu projeto de presidente à ilha da América Central (Que só de te ver / Eu penso em largar tudo e fugir com você / Pra Cuba / Completamente, totalmente na tua). Ao cabo, é um disco debochado, cheio de calor humano, e que nos faz lembrar de que, em meio ao caos, a arte pode nos divertir e resistir em igual medida.

Nota: 9,0


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