terça-feira, 14 de junho de 2022

Novidades em Streaming - Blue Bayou

De: Justin Chon. Com Justin Chon, Alicia Vikander, Sydney Kowalske e Mark O'Brien. Drama, EUA, 2021, 119 minutos.

Ok, a gente até sabe que indicação ao Oscar não depende apenas da qualidade de um filme, já que é preciso uma ampla campanha de marketing por trás da produção. Mas ao final da projeção de Blue Bayou, considerei meio inacreditável o fato de a obra dirigida e estrelada por Justin Chon ter passado completamente batida na principal premiação do cinema. O projeto, afinal, tem todos os elementos que costumam agradar a Academia - indo desde o drama dilacerante, passando pela temática relevante, até chegar às incríveis interpretações do elenco principal, inclusive da pequena Sydney Kowalske, que tem uma entrega comovente. A trama versa sobre o processo de deportação tardio que é vivido por milhares de estrangeiros adotados nos anos 80 e 90 por famílias americanas, que descobrem não possuir cidadania. Uma situação dramática, que deixa vulnerável uma boa parcela da população de outros países que cresceu nos Estados Unidos - muitos inclusive sequer sabendo do fato de não serem cidadãos da nação em que vivem.

Bom, não é preciso ser tão ligado em política internacional para saber que um governo xenófobo como o do recente Donald Trump torna tudo ainda pior. Uma matéria da BBC dá conta de que a Campanha pelos Direitos dos Adotados (ARC, na sigla em inglês), estima que até 2033 mais de 60 mil estrangeiros possam estar em risco de deportação, por conta de alguma irregularidade em sua documentação. Ou por mera burocracia mesmo - e não deixa de ser meio bizarro pensar que em um mundo tão supostamente globalizado, ainda haja tantos casos de pessoas precisando comprovar não serem "apenas" imigrantes, com o risco de serem separados de suas famílias e enviados para um País que sequer conhecem. Em Blue Bayou esse é o caso de Antonio (Justin Chon), coreano adotado por uma família americana aos três anos de idade e que, por conta de um episódio de abuso de autoridade envolvendo a polícia, passa a correr riscos de deportação.

Trabalhador de um estúdio de tatuagem, Antonio está empenhado em conseguir um segundo emprego para que possa dar conta do sustento da família, que é integrada pela namorada Kathy (Alicia Vikander), e pela pequena enteada Jessie (Sydney Kowalske) com quem mantém, meio aos trancos e barrancos, uma amorosa relação. Diante de tantas negativas - Antonio já esteve na prisão por duas vezes por conta de assaltos com roubo de motos -, o protagonista vê a sua situação piorar, quando se envolve em uma confusão com uma dupla de policiais mal intencionados - um deles Ace (Mark O'Brien), que é o pai biológico de Jessie e que também luta para poder conviver com a criança. De mãos atadas, Antonio, Jessie e Kathy precisarão contar com a boa vontade de advogados caríssimos e do próprio Estado, que não parece lá muito interessado em preservar os seus estrangeiros em solo americano. Ah, detalhe importante: Kathy está grávida.

Excruciante, a obra utiliza grande parte de seu aparato técnico em favor da narrativa - ele pode até ser modesto (é um filme de baixo orçamento, afinal), mas é muito efetivo. Um bom exemplo disso está nos eventuais longos planos sequência, sendo aquele que envolve a discussão do casal protagonista, após Kathy descobrir que Antonio voltou a praticar furtos (no intuito de obter dinheiro para custear os honorários jurídicos), um dos mais marcantes. Mas há ainda a trilha sonora - a aparição de um Bon Iver lá no meio é mais do que perfeita, além da própria canção de Roy Orbison, que nomeia o filme - e um certo apelo ao onírico na fotografia, especialmente nas sequências que mostram cenas da juventude da desesperada mãe de Antônio. E isso sem falar nas interpretações, e, sério, Academia, dar um prêmio pro Will Smith e ignorar o Justin Chon na temporada se configura quase em um crime. E Alicia e Sydney, é bom que se diga, não ficam atrás. Você, fã de bom cinema, faça justiça a essa joia que está disponível para aluguel na Apple TV e na Amazon. Assista. Pra ontem.

Nota: 9,5


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