De: Ninja Thyberg. Com Sofia Kappel, Alice Gray e Axel Braun. Drama, Suécia / Holanda / França, 2021, 109 minutos.
Nesse sentido, é possível afirmar que a experiência pode ser bastante incômoda para alguns paladares. Afinal, se por um lado, não deixa de ser curioso saber do que ocorre com a câmera ainda desligada - há um caráter quase documental nessa preparação, os diálogos entre os atores, os movimentos, as tentativas de deixar todos à vontade -, por outros há uma espécie de violência que vai escorrendo pelos cantos, nas entrelinhas, o que sufoca as atrizes que não se mostram capazes de se adequar a um cinema de fetiches bizarros, excêntricos, exagerados (e não quero aqui parecer moralista já que o problema não está no fetiche em si, mas sim no caminho percorrido pelas jovens atrizes para que estes sejam contemplados). Um bom exemplo disso está na excruciante sequência em que Bella aceita um trabalho desagradável e violento, com dois atores que a humilham, obrigando-a a submissão (pra não dizer estupro).
É doloroso, eventualmente desagradável, mas também serve para evidenciar que, por trás de uma atriz que faz caras e bocas de prazer em meio a um sexo mecânico, há toda uma indústria movida por homens brancos e de meia idade - que detém o dinheiro - e que destituem as suas estrelas do direito ao próprio corpo (diferentemente do suposto empoderamento que o universo poderia sugerir). Lá pelas tantas, Bella percebe que terá mais sucesso no ramo se investir em fetiches mais extravagantes - de bondage à dupla penetração, entre outros. E é aí que a coisa complica um tanto. Sim, estamos falando de um segmento de trabalho estigmatizado, mas o que o filme busca nos dizer o tempo todo parece ser sobre o quanto essas meninas precisam ser fortes para embarcar nessa jornada. E como amadurecer não vai ser fácil sem alguma boa dose de presença de espírito, inteligência e autenticidade.
E Sofia Kappel traz tudo isso, misturando olhares vulneráveis e até desesperados com um comportamento que sugere força e persistência em igual medida. Acompanhada de atores e atrizes que realmente integram esse universo, o filme amplia o caráter realista, quase naturalista, como se a câmera que vai pra lá e pra cá funcionasse como um observador, uma espécie de voyeur em meio a homens circulando com seus pênis eretos e a mulheres em trajes fetichistas. Todo esse contexto dá profundidade aquilo que acompanhamos, enquanto temas como sororidade, papel da mulher, julgamentos morais, estruturas de poder, consentimento, tabus sexuais e outros emergem em cena. É um trabalho complexo, instigante e realista, cheio de camadas, mas também simples, direto. E que nos faz lembrar o tempo todo de que, para cada busca que fazemos no xvideos, há um sem fim de pessoas trabalhando no sentido de atender esses anseios. Sim, trabalhando. Parece estranho admitir isso. Mas é a verdade.
Nota: 8,0
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