De: Craig Zobel. Com Kate Winslet, Julianne Nicholson, Evan Peters, Jean Smart, Guy Pearce e Angourie Rice. Drama, EUA, 2021, 440 minutos (sete episódios).
Mare of Easttown é mais uma daquelas minisséries da HBO Max ideais para maratonar em um final de semana. Com apenas sete episódios de cerca de uma hora cada, a atração protagonizada por Kate Winslet - que, aliás, ganhou o Emmy pelo papel -, é mais uma daquelas que mistura drama familiar com suspense policial. Aliás, a plataforma de sreaming tem se especializado em utilizar um microcosmo - nesse caso uma pequena cidade do interior da Filadélfia em que absolutamente toda a população se conhece (ou até é parente entre si) -, para chafurdar nos segredos daquelas famílias que, apenas nas aparências, se comportam bem, frequentam a Igreja, possuem um caráter ilibado, sólido. E, a gente já tá careca de saber que, em muitos casos, o "cidadão de bem" raiz costuma ser um poço de hipocrisia. Sempre pronto a apontar o dedo para os problemas ou os erros dos outros, mas incapaz de olhar para os seus próprios equívocos. O castelinho de cartas, assim, não demora a desmoronar.
Na trama Kate Winslet é a Mare do título. Mulher de expressão eventualmente cansada e invariavelmente triste, atua como detetive, sendo uma das responsáveis por investigar, sem muito sucesso, o desaparecimento de uma jovem. Em meio ao burburinho provocado pela falta de efetividade policial - a mãe da moça desaparecida age de forma parecida com a da personagem de Frances McDormand em Três Anúncios Para Um Crime (2018) -, a situação se complica ainda mais quando outra jovem, de nome Erin (Cailee Spaeny), é encontrada morta, em meio a um matagal, após uma noite de festa. Um vídeo que viraliza aponta para um ato de violência que teria ocorrido pouco antes do crime, na noite anterior, envolvendo um grupo de jovens. Teriam eles conexão com o caso? Seria apenas uma coincidência? Por que Erin teria ligado para o pároco local antes de ser morta? E qual a participação de Dylan (Jack Mulhern), ex-namorada de Erin nessa história? São muitas as perguntas sem resposta. E sabe o que é pior e mais incrível ao mesmo tempo? As dúvidas só aumentarão!
E tudo isso por causa da ampla rede de relações interpessoais que existem nessa comunidade. Todos se conhecem. Todos são vizinhos, primos, amigos de todos. Há uma desconfiança meio generalizada. O que parece uma verdade absoluta agora, no instante seguinte já não é mais uma certeza. O possível criminoso do momento, perde força assim que uma nova prova surge. Enquanto Mare, as turras, se esforça para chegar a alguma conclusão, um novo desaparecimento acontece. Ao mesmo tempo em que ela precisa lidar com os próprios demônios. Os próprios traumas que estão guardados a sete chaves. É aquele tipo de narrativa que funciona porque vai nos dando as pistas aos poucos. De forma tópica. Uma atitude meio suspeita aqui. Um comportamento meio curioso ali. Uma arma que some e reaparece. Uma bicicleta que deveria estar no local do crime. Uma atitude extremada que quase resulta em uma nova tragédia. É o Estados Unidos pós-Trump em forma de minissérie. Tentando lamber suas feridas. Recomeçar. Em meio aos destroços, a devastação, às decisões equivocadas ou precipitadas.
Nesse combo há uma série de personagens secundários e relevantes para a trama, como a mãe de Mare, Helen (a ótima Jean Smart), o eu ex-marido Frank (David Denman, o eterno Roy de The Office), a melhor amiga Lori (Julianne Nicholson) e o interesse romântico Richard, um professor universitário vivido por Guy Pearce. Há ainda um segundo detetive designado para o caso de Erin chamado Colin Zabel (Evan Peters) que, em alguns casos, e dado o provincianismo da população local, parece mais atrapalhar do que ajudar. As discussões são variadas, passando por temas como maternidade, porte de armas, abuso de drogas, pedofilia, incesto, entre outros. Sim, é eventualmente pesado. E tenso em praticamente todos os minutos, com uma resolução daquelas de nos fazer saltar do sofá. Aliás, são muitas as surpresas do roteiro. Com ganchos que nos mantém com os olhos grudados na tela. Tudo isso talvez explique as 16 indicações para os prêmios Emmy - com quatro vitórias - obtidas pela atração dirigida por Craig Zobel que, dizem, poderá ser renovada para uma nova temporada. É aguardar.
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