De: Chih-Yen Hsu e Mag Hsu. Com Hsieh Ying-xuan, Roy Chiu e Joseph Huang. Comédia dramática, Taiwan, 2018, 100 minutos.
Sem espaço para muitas divagações ou para qualquer tipo de enrolação, o casal de diretores nos apresenta já de saída a uma Liu absolutamente estressada, ainda que um tanto metódica. Com mania de limpeza, hipocondríaca e, aparentemente, bastante conservadora, a protagonista bate de frente com Jay, um diretor de teatro de espírito livre, arejado, ligado as artes e bastante desleixado - em resumo o completo oposto de sua antagonista. Cada encontro entre os dois - e no decorrer da trama há vários - é explosivo, com descargas de raiva de parte a parte, o que faz com que Song tome uma atitude extrema: ele foge de casa e começa a se aproximar, de forma meio inesperada, de Jay. Sua intenção inicial é entender o que aconteceu entre o seu pai e o jovem. O que, afinal, teria feito com que o genitor se aproximasse daquele sujeito tão mal vestido, tão displicente. Aos poucos, ele compreenderá que as aparências podem enganar e que há mais por trás do artista endividado, que passa seus dias bebendo e fumando.
[ATENÇÃO: HÁ ALGUNS SPOILERS A PARTIR DAQUI] Nesse sentido, é um filme de boa fluência, que estabelece os seus "encaixes" sem deixar pontas mal explicadas. Para o pai de Song não deve ter sido fácil se descobrir apaixonado por um homem na vida adulta - ainda mais em uma sociedade conservadora. Mas será nos braços de Jay que Song pai (Spark Chen) encontrará o carinho necessário para enfrentar um câncer terminal. E será nesse momento que a obra se tornará enérgica, com o uso de recursos técnicos bastante gráficos e de uma trilha sonora não menos do que inebriante (daquelas que fica na cabeça, mesmo após a conclusão do filme). Aliás, o que temos aqui é uma experiência de rara beleza, bastante vigorosa, que utiliza justamente a metalinguagem (durante a projeção acompanhamos o esforço e Jay para a conclusão de uma peça) como forma de estabelecer diálogo com o que vemos. E não será exagero afirmar que precisei enxugar as lágrimas ao final da projeção.
Vale destacar que para os fãs de um cinema mais linear, a obra não deixa de ser satisfatória. Com as informações sendo despejadas em pequenas doses, caberá ao espectador ir montando o quebra-cabeças que configurará a realidade beligerante do trio central. E na real não há "mocinhos e bandidos" bem definidos, já que é possível compreender as motivações de todos. Da mãe que deseja um futuro melhor para o filho. Do amante, que empreendeu uma verdadeira via crúcis pra tentar salvar seu amado. E do filho, que mais parece uma bola de pinball perdida em meio aos dois. Discutindo de raspão temas como preconceito e xenofobia, a obra aposta no amor como solução - o que a transforma quase em uma utopia, especialmente no mundo duro em que vivemos. Bom, sonhar não custa nada. E muitas vezes o que fica é isso mesmo. Esse clima de sonho, meio tropical, meio urbano, que deixa para trás aquilo que foi, nos permitindo finalmente olhar para frente.
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