De: Ang Lee. Com Emma Thompson, Kate Winslet, Alan Rickman, Hugh Grant, Gemma Jones e Tom Wilkinson. Drama / Romance, EUA / Reino Unido, 1995, 136 minutos.
A gente jamais pode esquecer, por exemplo, que o livro em que se baseia o filme de Ang Lee, foi escrito em 1808. Mais de duzentos anos atrás. Muito antes de qualquer luta feminista ou da criação de qualquer personagem mais forte nesse sentido. O que não impede o fato de percebermos o vigor com que Gemma Jones encarna a Sra. Dashboard, que cria sozinha as três filhas em meio ao ambiente campesino, após perder o marido. Ou mesmo o empenho de Elinor (a sempre exuberante Emma Thompson) em tentar se manter firme em meio a tantas idas, vindas, sofrimentos e reviravoltas que envolvem, também, o seu candidato a par romântico Edward Ferrars (Hugh Grant). Sim, por trás das intenções de uma vida doméstica organizada, em um casamento satisfatório, há uma força de vontade genuína e uma ampla e heróica capacidade de "movimento", de sair do lugar comum, de lutar por amores, amizades e situações que modifiquem o cotidiano, que evoquem alguma esperança em meio a estupidez dos dias repetidos.
E, quase como sempre parece ocorrer nas obras de Austen, a quebra da hierarquia relacionada as diferenças de classes é o que rege cada uma das narrativas. Mais do que isso, é bastante frequente o retrato da aristocracia como um coletivo eventualmente estúpido, mesquinho, fútil e interessado apenas em perpetrar a sua riqueza, por meio de casamentos enjambrados, em que o que menos existe é o amor. Nesse sentido, a simples luta pelo "amor" - especialmente em uma sociedade que se pauta pelo ódio -, parece tornar Austen tão atual e necessária. Assistir aquelas várias famílias em suas casas simples ou majestosas, em meio à natureza exuberante, que acompanha chuvas comoventes em meio ao movimentos de carroças, cavalos e outros acessórios, no campo ou em cidadelas em construção, é sentir algum tipo de familiaridade que aproxima da coisa simples, do bucolismo nostálgico, da saudade daquilo que nem vivemos (mas que, talvez, em nosso íntimo, desejemos viver). Em resumo, a gente torce pra que a coisa dê certo - e quer algo mais "subversivo" do que isso?
A trama parte do falecimento de um patriarca, que deixará a ex-mulher e as filhas em maus lencóis - uma vez que a herança vai parar nas mãos de seu único filho (e de sua ambiciosa e irritante esposa). A solução encontrada é se mudar para uma casa simples e improvisada, na tentativa de sacudir a poeira e seguir em frente. Enquanto ocorre um verdadeiro desfile de figurinos e de cenários deslumbrantes - o desenho de produção beira à perfeição - acompanhamos as tentativas de duas irmãs em se arranjar em matéria de matrimônio, o que pode lhes ajudar num futuro melhor. Alguns pesquisadores garantem que Austen olhava com carinho para suas personagens, tentando evitar ao máximo o sofrimento do leitor (e do espectador) - o que reduziria a força de sua obra, excessivamente harmônica (assim como são as flores e os jardins bem arranjados) e amplamente fraternal. A gente pode dar "voltas" defendendo este ou aquele ponto de vista, mas uma coisa é certa: o filme de 1995 segue como um valioso e íntimo retrato da Inglaterra do começo do século XIX. E o Oscar de Roteiro Adaptado, há exatos 25 anos, pode ser que avalize essa condição, valendo o resgate.
I love Emma Thompson!
ResponderExcluirComo sempre, otimas resenhas!!
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